Título: Fabricantes vivem estado de alerta com dólar baixo
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F33

Os produtores de máquinas e equipamentos pesados estão em estado de alerta. A valorização do real em comparação ao dólar começa a derrubar a competitividade das empresas, já que boa parte delas tem forte atuação no mercado externo. O desempenho aquém do esperado foi recebido pelos empresários como um verdadeiro banho de água fria, uma vez que, animados com as vendas registradas no ano passado, faziam suas estimativas de faturamento em 2005 com um dólar valendo cerca de R$ 3. Para Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e da Indústria de Base (Abdib), a paralisação das obras públicas também tem preocupado as empresas. "Não há projetos para as áreas de saneamento e de geração e transmissão de energia. O que tem sustentado o setor são as encomendas de indústrias cuja atividade está voltada para as exportações, como siderurgia e papel e celulose", diz. Ainda pesam contra a evolução do setor a elevada carga tributária e os juros altos. Apesar da queda dos investimentos em infra-estrutura - de 2001 para cá os recursos destinados caíram de US$ 21 bilhões para estimados US$ 9 bilhões -, Godoy afirma estar otimista com o segundo semestre. Além das Parcerias Público-Privadas (PPPs), que devem sair do papel, há a perspectiva de desembolsos maiores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os setor, que devem passar dos R$ 15,1 bilhões em 2004 para R$ 21,6 bilhões neste ano. Faz coro às reclamações em relação ao trio câmbio-juros-impostos o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, que prevê um faturamento 15% inferior ao do ano passado caso a cotação do dólar permaneça nos níveis atuais. Em 2004, as empresas do setor faturaram R$ 43 bilhões, um recorde histórico. Segundo o executivo, muitas companhias refazem seus planos de investimentos para este ano, estimados, no final do ano passado, em R$ 6 bilhões. Foi retraída também a intenção de ampliar os quadros de funcionários. "Estamos atravessando um período de real turbulência", afirma Mello. De acordo com o executivo, as vendas de equipamentos voltados à produção agrícola caíram 25% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto as de válvulas industriais já registraram queda de 20%. Outros segmentos, como os de máquinas têxteis, vinham em ritmo aquecido de encomendas mas os fabricantes já apontam inflexão dessa tendência. O que tem salvo as estimativas o setor, diz o presidente da Abimaq, é o desempenho dos fabricantes de equipamentos pesados, que no primeiro trimestre tiveram um crescimento de 100% em comparação ao ano passado. É esse segmento, segundo Mello, que deve manter as linhas de produção ocupadas ao longo de 2005 e 2006. Para Raul de Mello Freitas, diretor de automação e controle da Siemens, os equipamentos brasileiros também passaram a sofrer com os apelidados "franco-atiradores", representados pela invasão de produtos de procedência duvidosa e com preços mais baixos. Apesar do cenário de dúvida, a Siemens diz que fará os investimentos previstos para este ano (não revelados), inclusive no centro de pesquisa que mantém no Brasil. "Temos que ter uma estratégia de longo prazo e provar para o mercado que temos tantas vantagens competitivas quanto os fabricantes chineses e indianos." A lentidão das obras públicas também é motivo de preocupação. "A Petrobras já anunciou diversas vezes seus planos de cerca de R$ 70 bilhões em obras nos próximos anos, mas ainda não liberou um centavo sequer." João Ney Prado Colagrossi Neto, presidente da América do Sul da Metso Minerals, também está atento ao avanço dos equipamentos asiáticos no Brasil e em outros países atendidos pela empresa. "Reduzimos de 42% para 31% este ano o percentual de nossa produção voltada ao mercado externo", diz. Para driblar as consequências desse cenário, a empresa busca soluções como a diversificação das áreas de atuação e procura encomendas com pagamentos atrelados ao euro. O faturamento da empresa para este ano deve chegar aos R$ 490 milhões.