Título: Siderurgia lidera plano de US$ 13 bi até o fim da década
Autor: Ivo Ribeiro e André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F35

A siderurgia brasileira iniciou este ano novo ciclo de investimentos. As atuais usinas do país têm planos que somam US$ 12,8 bilhões até o fim da década. Com isso, se todos os projetos se concretizarem, o setor vai adicionar mais de 15 milhões de toneladas sobre a atual capacidade instalada. Hoje, as 24 usinas em atividade no país, sob a gestão de 11 empresas, dispõem de capacidade pouco acima de 34 milhões. A previsão do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) é fechar o ano com 36,4 milhões com a maturação de projetos do grupo Gerdau e a expansão da fábrica da concorrente Belgo, em Piracicaba (SP). "As usinas do setor, que faturaram US$ 17,6 bilhões em 2004 e geraram exportações de US$ 5,3 bilhões, têm um plano consistente de repetir até 2010 os US$ 13 bilhões de investimentos que fizeram desde 1994", afirma Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do IBS. O foco dos investimentos é o incremento das exportações, principalmente de produtos semi-acabados (placas e tarugos), e suprimento do consumo interno. Com a expansão do PIB no nível de 4% ao ano, a demanda doméstica de produtos siderúrgicos deve crescer ao ritmo de pelo menos 10% ao ano. Em 2004, as usinas brasileiras produziram 32,9 milhões de toneladas de aço bruto (31 milhões de produtos semi-acabados e finais). Desse volume, 12 milhões de toneladas foram para exportação. Esse volume, que já representou queda comparado a 2003, pode cair mais se novas ofertas não forem adicionadas. O volume de investimentos é liderado pelo grupo Gerdau, que prevê até 2008 desembolso de cerca de US$ 3 bilhões. Os principais projetos são a nova usina paulista, cuja primeira fase fica pronta ainda este semestre, as expansões da Açominas, em Minas, e da Cosigua, no Rio, e a a nova usina de aços especiais e Santa Cruz (RJ). O grupo europeu Arcelor, controlador de três usinas no país - Siderúrgica de Tubarão (CST), Belgo e Acesita - e de uma laminadora de aços planos, a Vega do Sul, está à frente de um programa superior a US$ 1 bilhão. Esse valor envolve a expansão da CST, que passará a 7,8 milhões de toneladas em meados de 2006, e a construção de uma coqueria à base de carvão mineral em Serra (ES). A Arcelor, que liderava a produção mundial de aço até o último trimestre, tem estudos para duplicar a capacidade de duas usinas da Belgo, ambas em Minas Gerais - a fábrica de Monlevade, que faz hoje 1,2 milhão de toneladas por ano, e a de Juiz de Fora, apta a produzir 1 milhão de toneladas por ano. A Siderúrgica Nacional (CSN), no momento com as atenções voltadas mais para a duplicação de sua mina de ferro, Casa de Pedra, em Minas, estuda duas vertentes: um terceiro alto-forno na usina de Volta Redonda ou uma nova usina em Itaguaí (RJ). O grupo Usiminas/Cosipa, em situação financeira mais confortável, vai concluir em setembro plano que definirá nova expansão na fábrica de Ipatinga (MG). Se aprovado pelos acionistas, com investimentos na casa de US$ 800 milhões, o grupo vai erguer nova instalação apta a fazer até 2 milhões de toneladas de aço bruto por ano. O presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, disse que o projeto vislumbra déficit na oferta interna de aço a partir de 2009 se a economia do país mantiver crescimento de 4% a 5% anuais. A companhia é a maior supridora da indústria automotiva e a única produtora de chapas grossas do país, material usado na indústria naval e em segmentos de bens de capital. A Siderúrgica Barra Mansa, do grupo Votorantim, pretende chegar em 2008 com 800 mil a 1 milhão de toneladas, com investimentos acima de US$ 200 milhões. Aços Villares e V&M Tubes (grupo Vallourec) também planejam ampliação das unidades. O cronograma do IBS mostra que, com os projetos realizados, a capacidade do setor vai crescer ao ritmo anual de 2 milhões de toneladas, até alcançar 49,7 milhões de toneladas em 2010. A Vale do Rio Doce estuda dois projetos com sócios - um no Maranhão, liderado pela siderúrgica chinesa Baosteel, com possível parceria de Arcelor/CST, e outro no Rio, com a ThyssenKrupp. São usinas voltadas para exportação. Em outro setor de capital intensivo - celulose e papel -, o grande investimento previsto é a duplicação da fábrica de Mucuri (BA), operada pela Suzano Bahia Sul. O desembolso, já aprovado pelo conselho de administração do grupo Suzano, é de US$ 1,28 bilhão. O projeto prevê uma nova capacidade de produção de 1 milhão de toneladas por ano a partir de 2007. Atualmente, a empresa está equalizando as propostas com fornecedores de equipamentos. O desenho financeiro está sob análise. A empresa já levou o projeto ao BNDES e a agências de crédito de exportação. A intenção da empresa é começar as obras já no terceiro trimestre deste ano, informa o diretor da Suzano, Bernardo Szpigel. Em papel, a Klabin, maior fabricante de embalagens, leva, no segundo semestre, ao conselho da empresa, a proposta de duplicar a produção de cartões. O investimento é estimado em US$ 500 milhões para 2006 e 2007. "A Klabin está se preparando para um ciclo de investimento mais pesado, a partir de 2006", reitera o diretor financeiro, Ronald Seckelmann. Na petroquímica, vários projetos estão sendo assinados pela Petrobras e parceiros para elevar a capacidade de produção de algumas resinas termoplásticas. A estatal já assinou um acordo com a Braskem para fabricar 300 mil toneladas de polipropileno em Paulínia (SP), com investimento de US$ 200 milhões. Deve iniciar em 2006. Outro acordo foi fechado pela estatal com Elekeiroz e Dow Brasil para produzir ácido acrílico em Betim (MG), estimado em US$ 360 milhões. A Petrobras decidiu ainda que a nova unidade de paraxileno (insumo para poliéster e garrafas de PET), será instalada na Bahia, para suprir fábricas no Nordeste. Está avaliado em US$ 300 milhões.