Título: Exportações devem repetir o resultado obtido em 2004
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F39

O cenário de contenção na maior parte das lavouras de grãos contrasta com as expectativas favoráveis para a balança do agronegócio. O setor, que tem sustentado a exuberância do comércio exterior e mantido a saúde das contas públicas, deve "segurar" o superávit em 2005, apontam os analistas. Mais otimista, o governo aposta que as exportações devem crescer entre 5% e 10%. A MB Associados projeta vendas externas de US$ 38,9 bilhões. O Ministério da Agricultura espera um resultado entre US$ 41 bilhões e US$ 43 bilhões. Em 2004, as exportações bateram em US$ 39 bilhões. Glauco Carvalho, da MB, diz que os complexos soja e carnes, seguidos de açúcar e álcool, continuarão a puxar a expansão. No primeiro trimestre, as vendas do agronegócio cresceram 12% sobre 2004, chegando a US$ 8,8 bilhões. "É um ritmo bastante bom para essa época", avalia Eliezer Lopes, coordenador de comercialização da Secretaria de Relações Internacionais. O auge das vendas acontece no segundo e terceiro trimestres. Carnes, açúcar e café devem recuperar as perdas de US$ 1 bilhão em exportações de soja. É possível chegar a US$ 9 bilhões no complexo soja, segundo o governo. A MB Associados estima US$ 8,3 bilhões e a MS Consult, US$ 8,96 bilhões. O complexo carnes elevou em 27% as exportações no primeiro trimestre, chegando a US$ 1,6 bilhão. O ano deve fechar com crescimento de 20% sobre os US$ 6,1 bilhões registrados em 2004, segundo o governo - ou US$ 7,3 bilhões em 2005. O Departamento de Agricultura dos EUA informou em abril que o Brasil deve fechar o ano com 28% do mercado mundial. As mais novas vedetes dos embarques brasileiros, o milho e o trigo, devem reduzir sua participação no comércio exterior por causa do aumento da demanda interna e do câmbio desfavorável. Em 2004, foram exportados US$ 597 milhões em milho e US$ 207 milhões em trigo. Neste ano, ambos devem contribuir com apenas US$ 300 milhões em divisas. Ao contrário das previsões feitas no fim de 2004, o saldo comercial, que fechou o ano em US$ 34,1 bilhões, deve se manter no mesmo nível em 2005. Nos últimos 12 meses, somou US$ 35,1 bilhões. Cresceu 14% no primeiro trimestre, para US$ 7,5 bilhões. O tom é dado pela pouca expressão das importações. Em três meses, cresceram apenas 0,6% - trigo, algodão e arroz ajudaram a derrubar as compras externas. Apesar da boa perspectiva, analistas e governo concordam que há entraves difíceis de superar para manter a performance do setor no front externo. O mais grave deles pode ser o surgimento de problemas sanitários e fitossanitários no sistema produtivo. No ano passado, a Rússia usou a descoberta de dois focos de febre aftosa, no Pará e no Amazonas, para embargar as compras de carne bovina de todo o Brasil. Mesmo que ambos Estados não fossem exportadores e estivessem fora do circuito livre da doença. "O jogo comercial é pesado e temos de estar atentos para todos os detalhes", diz o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. A logística é também um calcanhar-de-aquiles. Nunca foi tão caro transportar soja por Paranaguá (PR), principal porto brasileiro de grãos. Fernando Muraro, consultor da AgRural, explica: "Os custos de frete e porto são em grande parte negociados em reais. Com a valorização da moeda, vai sobrar menos renda no bolso do produtor", diz. Assim, o desestímulo ao produtor pode comprometer o resultado da balança. Também é essencial atrair investimentos externos ao setor e aumentar a produtividade com a ajuda de transgênicos, por exemplo. "Nos Estados Unidos, o milho rende uma média de 10 toneladas por hectare. Aqui, são apenas 3 ou 4 toneladas", afirma Glauco Carvalho.