Título: Empresas impõem desafio aos bancos
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2005, RUMOS DA ECONOMIA, p. F46

O dinheiro continua caro e escasso. Mas as empresas começam a impor novos desafios para os bancos. Cristiano Belfort, diretor da área de crédito corporativo do Bradesco, aponta mudanças no perfil dos tomadores: "Hoje as empresas estão sendo medidas não só pela rentabilidade maior, mas por usar menos o dinheiro do acionista". Isso faz diferença na hora de negociar e obriga os bancos a oferecerem soluções diferenciadas do "feijão-com-arroz" capital de giro e desconto de duplicatas. Dentro deste contexto, Sergio Constantini, responsável pela Gestão de Produtos Pessoa Jurídica do Banco Real, acrescenta que operações envolvendo cessão de recebíveis, principalmente entre pequenas e médias empresas, é a tendência: é bom para o banco, que ganha uma garantia mais firme, e é bom para a empresa, que não ocupa seu limite de crédito junto à instituição. Segundo Constantini, os bancos vêm desenvolvendo nos últimos anos sistemas de base de dados de performance de recebíveis, que já viabilizam empréstimos com garantia em fluxos de recebimento futuro. "Hoje temos que trabalhar com o cliente na ótica do que também é bom para ele, não só o que é bom para o banco", diz Wanmir Costa, superintendente de Produtos e Negócios do Banco Rural, afirmando que o mercado de crédito está passando por mudanças importantes. Segundo ele, a "inclusão tecnológica das empresas" e a profusão de informações disponíveis a respeito de custos, prazos e ofertas, tornou o tomador de empréstimos mais "consciente" e "preparado para sentar em uma mesa de negociação com o banco". Apesar das dificuldades impostas pela conjuntura econômica, principalmente o alto custo do dinheiro, os bancos querem emprestar mais, garante Paulo Maia, diretor executivo do HSBC. A aprovação das regras para os grandes projetos de infra-estrutura, dentro do programa de Parcerias Público-Privadas (PPP) é a grande expectativa de expansão das carteiras de pessoas jurídicas. Maia vê um cenário mais que propício: "Hoje temos uma janela para captar recursos no exterior", afirma o executivo, lembrando que o risco país está em seu menor nível em muitos anos assim como a taxa de juros internacional, o que tem feito com que investidores potenciais olhem com grande interesse os países emergentes como o Brasil. "Mas se isso vai se manter nos próximos meses, não sei", destaca Maia.