Título: Brasil fica atrás de Botswana no ranking global de competitividade
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Brasil, p. A-2

O Brasil continua a perder postos na corrida global pela competitividade. Segundo relatório divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial, o país caiu da 54ª para a 57ª posição no ranking do Índice de Crescimento Competitivo, que leva em conta o ambiente macroeconômico, a qualidade das instituições públicas e questões tecnológicas. A elevada carga tributária e os altíssimos juros e spreads bancários são os principais fatores que prejudicam o Brasil, que aparece atrás de países como Botswana (45º ), Trinidad e Tobago (51º ) e Namíbia (52º ). O país mais competitivo é a Finlândia, seguida pelos EUA. No Índice de Competitividade dos Negócios - que considera aspectos microeconômicos - o Brasil também se saiu mal - caiu do 34º para o 37º lugar. O Brasil perdeu posições pelo terceiro ano seguido, mas algumas ressalvas devem ser feitas. A primeira é que o número de países analisados tem aumentado ano a ano. Em 2000, eram 59; neste ano, foram 104. Além disso, no caso do Índice de Crescimento Econômico, houve significativa piora no subíndice "Ambiente Macroeconômico". O Brasil caiu da 75ª para a 80ª posição, o que se explica em grande parte por que os números utilizados são de 2003. De lá para cá, houve melhoras na relação dívida/PIB e na inflação, por exemplo. "O relatório não reflete as melhoras ocorridas neste ano", disse Carlos Arruda, diretor da Fundação Dom Cabral, responsável pelo levantamento no Brasil. Em evento na Fiesp, Arruda destacou, porém, que a situação é preocupante, e que o principal problema é macroeconômico. No caso do spread, o Brasil ficou no 101º posto. Em 2003, era o 100º . No subíndice "Tecnologia", o Brasil ficou em 42º lugar, sete posições abaixo de 2003. No subitem"Instituições Públicas" houve melhora de três postos, para o 50º , com destaque para o fator "Corrupção", em que o país galgou nove posições, de 54º para 45º. E o Brasil vai mal em questões tributárias. No item "Extensão e efeito da taxação", o país é o 103 º. A Fiesp também preparou um ranking de competitividade, comparando números de 43 países de 1997 a 2002. O Brasil aparece em 39º lugar. O estudo mostra que, em 2002, os spreads no Brasil eram de 43,5%, ante 5,5% na média dos 43 países; os juros cobrados em empréstimos estavam em 63% ao ano, muito acima da média de 8,3%. Já a relação entre o volume de crédito e o PIB era de 27% no Brasil, abaixo dos 85,6% dos outros países. "Esses números mostram que as reclamações dos empresários não são choradeira, mas baseadas em fatos, que atrapalham a competitividade do país", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Ele criticou também a carga tributária, que superou 38% do PIB no primeiro semestre. No Chile, está em 20%. Em teleconferência a partir de Nova York, o economista-chefe do Fórum Econômico Mundial, Augusto López-Claros, fez comentários pouco animadores sobre o Brasil. Questionado sobre os elogios que instituições como o Fundo Monetário Internacional têm feito ao Brasil, disse conhecê-los, mas destacou que o índice não leva em conta a evolução de um país, mas a comparação entre países. E aí o Brasil ainda está mal: no caso do déficit público (incluindo o pagamento dos juros), ficou em 80º. Para ele, apesar da recente melhora, o país não teve bom desempenho fiscal nos últimos 10 anos. López-Claros não poupou elogios ao Chile, que pulou do 28º para o 22º posto. É o melhor latino-americano, 26 postos à frente do segundo, o México. Ele destacou a política fiscal do país, a abertura da economia e o baixo nível de corrupção. A partir de 2005, haverá a divulgação de apenas um índice - o de Competitividade Global, considerando o estágio de desenvolvimento dos países. Por esse critério, o Brasil apareceria na 49ª posição. Com isso, 2004 é um ano de transição entre a apresentação dos dois índices - o de Crescimento Competitivo e de Competitividade dos Negócios - e o de um único indicador.