Título: Exportador de geladeira do Chile e do México ocupa mercado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Brasil, p. A-3

As restrições impostas pela Argentina ao ingresso de eletrodomésticos brasileiros no país estão causando um desvio de comércio que favorece fornecedores de fora do Mercosul. Desde a imposição das medidas, em julho, o espaço deixado pela diminuição das vendas brasileiras de pelo menos um artigo, as geladeiras com freezer, está sendo ocupado por dois países: México e Chile. Até junho, mês que antecedeu a aplicação das medidas pelo governo argentino, a participação do Brasil sobre o total das importações deste artigo era de 94%. Em agosto, a parcela ocupada pelo México cresceu de maneira inédita, e a do Chile em um patamar menor, resultando em uma queda de participação do Brasil sobre o total das importações para 83%. "O que está acontecendo é que algumas empresas que estão começando a produzir na Argentina ainda estão complementando suas linhas de produtos, e têm trazido bens de outros países", admitiu ao Valor o subsecretário de Política e Gestão Comercial da Argentina, Guillermo Feldman. Segundo ele, essa troca de fornecedores - com perda de espaço para o Brasil - se limita a geladeiras. Feldman afirmou também que empresários do setor foram alertados sobre o problema e se comprometeram a corrigi-lo. As travas foram impostas para, segundo as autoridades argentinas, proteger a indústria local da competição dos produtos brasileiros, cujo alto volume de exportações estaria impedindo a recuperação da produção nacional. O Brasil ainda é de longe o maior exportador de geladeiras para o mercado argentino, mas números referentes às importações desde que o acordo de auto-limitação foi fechado, em julho, mostram o aumento da participação de México e Chile nos envios do eletrodoméstico ao país. Duas das maiores empresas que produzem geladeiras na Argentina são de capital chileno (Frimetal, instalada na província de Santa Fé e comercializa a marca Gafa) e mexicano (Mc Lean, em San Luis, com as marcas General Electric, Fagor e Saccor). As importações de geladeiras com freezer provenientes do México subiram de US$ 90,8 mil em junho para US$ 569,2 mil em agosto. No caso dos produtos chilenos, o crescimento foi mais moderado, mas ainda expressivo: de US$ 76,7 mil em junho para US$ 129,3 mil em agosto. Os volumes das exportações brasileiras são muito maiores, mas os efeitos do acordo fechado após a pressão do governo argentino, que ameaçou impor travas burocráticas aos produtos brasileiros, já estão sendo sentidos, com queda no total das exportações. Em junho, os embarques de geladeiras com freezer foram de US$ 4,159 milhões, mas em agosto a cifra caiu para US$ 3,443 milhões. O total importado de todas as origens mostra que, antes das restrições serem impostas, praticamente toda a importação argentina de geladeiras com freezer (94,2% em junho) vinha do Brasil, e o montante total alcançava US$ 4,414 milhões. Em agosto, o montante importado diminuiu 6,2%, mas a participação brasileira sobre o total das importações caiu para 83,1%. O acordo fechado em julho entre os setores privados dos dois países prevê que as exportações brasileiras de geladeiras estejam limitadas a uma cota de 18.166 unidades por mês. A cota havia sido acertada até o mês passado, e as duas partes voltaram a negociar para tentar chegar a um patamar a ser seguido até o final o ano que vem. Como não houve acordo, a mesma cota foi mantida para outubro. Outro acordo restringiu os embarques de fogões, enquanto a importação de lava-roupas está limitada por um sistema de licenças não-automáticas, que burocratiza o processo. Os problemas na relação comercial entre os dois países serão discutidos hoje durante um jantar em São Paulo que reunirá a cúpula empresarial dos dois países, com a presença dos chanceleres Celso Amorim, do Brasil, e Rafael Bielsa, da Argentina. Do lado argentino, estarão presentes uma dezena de empresários, entre eles os principais dirigentes da União Industrial Argentina (UIA). Pelo Brasil devem estar presentes representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). (PB)