Título: Para Severino, presidente deveria se ocupar do PT
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Política, p. A4

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, rebateu ontem as críticas feitas na sexta-feira pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu e Lula afirmaram que a eleição de Cavalcanti foi um erro. Para Severino, os dois devem se ocupar do PT. "Acho que os dois devem se ocupar do partido deles e não da decisão dos parlamentares que me elegeram. Fui eleito para ser presidente da Câmara e não para ser mandado pelo governo", afirmou Severino em sabatina promovida pelo jornal "Folha de S. Paulo". Severino afirmou ainda que o governo federal está fazendo uma coisa inédita, que é usar seus deputados para obstruir os trabalhos na Câmara: "Até hoje, nenhum governo havia colocado seus deputados para obstruir os trabalhos. As medidas provisórias atravancam o bom andamento do Legislativo". Severino ainda disse que o presidente Lula está copiando Fernando Henrique Cardoso: "Lula copiou o que Fernando Henrique Cardoso fez de melhor. Tanto que o Delfim Netto até o elogiou, enquanto o deputado Babá (ex-PT e agora Psol) protestava". O presidente da Câmara, no entanto, não descarta um possível apoio à reeleição de Lula. De acordo com ele, ainda está muito cedo para fechar uma posição: "A reeleição vai depender das posições que ele (Lula) tomar a partir de agora. Se ele vai acabar com a bagunça e se desvencilhar de quem fica por trás dele impedindo-o de conversar com os deputados. Vamos esperar e ouvir as bases e ver se o governo merece meu apoio". Severino afirmou que não pretende se candidatar a um cargo majoritário nas eleições de 2006. "Vou sair candidato a deputado federal. É isto o que eu quero. Esta é a minha vida", disse. Indagado se está em campanha à Presidência da República, respondeu: "Eu vou lhe dizer o seguinte, se defender o trabalhador e o micro e pequeno empresário é fazer campanha, eu vou fazer campanha imediatamente." Segundo Severino, apesar de ser candidato a deputado federal, ele tem feito seu papel de "defensor do povo", o que pode se confundir com uma candidatura majoritária. O presidente da Câmara voltou a dar como exemplo de defesa dos interesses da sociedade a luta pela derrubada da MP 242, que muda as regras para o cálculo e concessão do auxílio-doença: "Estou em campanha para defender o trabalhador, homem do campo, aqueles que estão abandonados". Sobre a reforma ministerial interrompida por Lula em março, Severino afirmou que não foi precipitado e nem foi o culpado pelo fim da reforma. Para ele, a reforma saiu frustrada por causa da fragilidade do governo no Congresso: "O governo não tem maioria e não tem maioria porque não cumpre suas promessas. O presidente Lula estava demorando. Ele não queria enfrentar os partidos, estava com receio, posso dizer que com medo. Ele aproveitou meu desabado e realmente não fez. Reforma ministerial não é como a que ele fez não." Severino voltou a defender o reajuste salarial dos congressistas. Segundo o presidente da Câmara, o deputado brasileiro ganha pouco diante da responsabilidade de seu cargo. "Eu fiz realmente (campanha para elevar o salário dos deputados) porque o deputado tem que ter salário à altura de sua responsabilidade. Acho que o salário é pequeno em função da sua responsabilidade." Sobre as vaias que recebeu no domingo, na festa de 1º Maio promovida pela Força Sindical, em São Paulo, o presidente da Câmara disse elas "lhe dão coragem". "As vaias me dão coragem. Tenho coragem de enfrentar. Tanta coragem que no ano que vem vou voltar lá", declarou. (Com agências noticiosas)