Título: Cesar Maia admite aliança com PSDB
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Política, p. A5

O prefeito do Rio de Janeiro e pré-candidato do PFL à Presidência da República em 2006, Cesar Maia, admitiu ontem uma aliança com o PSDB para tentar evitar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o partido admite inclusive abrir mão da cabeça de chapa caso a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se revele mais "competitiva", mas também espera "reciprocidade" dos tucanos se a situação for inversa. "É uma via de duas mãos; queremos o compromisso deles com isso", disse o prefeito, que participou ontem, em Porto Alegre, da abertura da 18ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e que este ano tem como tema central "o futuro do trabalho". Se o PFL disputar como vice do PSDB, porém, Maia não será o candidato, mas sim alguém da "máquina" do partido. "Isso não cabe nem num caso nem no outro", disse. Na opinião do pré-candidato do PFL, seria um "desperdício" tanto ele quanto Alckmin disputarem a Vice-Presidência. Maia, que pretende definir até o primeiro trimestre de 2006 se renuncia à Prefeitura do Rio para concorrer, admitiu também que a intervenção do governo federal nos hospitais do Rio de Janeiro "arranhou um pouco" sua imagem, mas afirmou que a verdade prevaleceu quando o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a medida. "Todos sabem que a saúde pública está em crise, mas isso foi um pretexto para promover um ato político contra um adversário", criticou. Conforme o prefeito, o governo Lula promove uma "escalada autoritária", expressa em atitudes como a "permissividade" com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os sinais de aproximação com o presidente venezuelano Hugo Chávez e a centralização tributária. "Tudo isto é precificado pelo mercado", afirmou Maia, para quem um terço da taxa básica de juros no país deve-se a esta "insegurança política". Também presente à abertura do Fórum da Liberdade, o deputado federal e pré-candidato do PPS à Presidência da República, Roberto Freire, disse que seu partido está articulando não só com o PDT, mas também com setores do PV, um "campo de esquerda" para enfrentar o PT em 2006. De acordo com ele, também seria bem vindo o PMDB "velho de guerra, aquele que não se deixa enxovalhar pela interferência escancarada do Palácio do Planalto". Freire atribuiu a esta frente de esquerda a responsabilidade de desfazer a idéia da existência de uma polarização entre o PT e o PSDB na eleição presidencial do ano que vem. Para ele, esta idéia beneficia apenas o próprio governo Lula e à "elite financeira" do país, que continuaria se beneficiando qualquer que fosse o vencedor. "Quem aplaudiu o Fernando Henrique continua aplaudindo o Lula", afirmou Freire, numa crítica à política econômica ortodoxa adotada pelo governo federal. Embora tenha ressalvas em relação ao recém-criado P-Sol, que pretende concorrer à Presidência com a candidatura da senadora Heloísa Helena, Freire admitiu que num eventual segundo turno em 2006 poderá trabalhar pela ampliação do "campo de esquerda" que está tentando costurar para a primeiro etapa da eleição. Para o deputado, o P-Sol é uma alternativa "regressiva" e "saudosista" e não de "superação" do PT, mas não acreditar na possibilidade de aproximação seria incorrer no "niilismo" político. "Mas o importante é não cair na armadilha de que tudo o que é contra o PT ou o PSDB seja aceito por nós", afirmou.