Título: Desaquecimento da economia preocupa o empresariado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Especial, p. A9

Os sinais de desaquecimento da economia, evidenciados em índices da Fiesp, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e até na demanda por crédito, preocupam os empresários. Mas isso não é consenso em todos os setores. A preocupação atinge principalmente aqueles que dependem do mercado interno, que não podem recorrer às exportações como opção para canalizar sua produção. "Estou preocupado com a desaceleração da economia. Uma correção tem que ser feita via redução dos juros", afirmou Benjamin Steinbruch, presidente e controlador da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Na avaliação do empresário, o crescimento da economia tem sido sustentado pelo crédito. "Mas isso é artificial e precisamos propiciar um aumento do emprego, da renda e do consumo via redução de juros." "Os sinais de desaquecimento são reais. Com a combinação de juro alto, câmbio baixo e elevada carga tributária é difícil manter o crescimento e estamos alertando sobre isso há tempos", disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp. De acordo com Skaf, os setores voltados ao mercado interno são os mais afetados, assim como aconteceu em 2004. "Quem está exportando não está sendo afetado." Segundo Steinbruch, o setor siderúrgico tem flexibilidade para destinar sua produção ao exterior. "Mas há outros, como os de calçados e têxtil, que não dispõem dessa opção. E isso preocupa muito." Ele destacou que para aço e minérios ainda existe demanda externa. Fernando Xavier, presidente da Telefônica, também se mostrou preocupado com os recentes indicadores e defendeu a redução dos juros. "Mas é necessário preparar a economia para o crescimento do país, enfrentando os gargalos da infra-estrutura." Para Xavier, o cenário atual é de redução das projeções do PIB de 4% para 3,5%. Luiz Ernesto Gemignani, presidente da Promon, empresa que atua nos segmentos de engenharia e telecomunicações, disse que projetos de infra-estrutura têm sido adiados por conta de um cenário de incerteza. "As empresas preferem esperar para ver qual será o comportamento futuro do dólar e do juro." Segundo ele, a valorização do real tem encarecido o custo das obras para o investidor estrangeiro. Alguns setores, entretanto, ainda não sentiram os efeitos de uma economia menos ativa. No varejo de combustíveis e alimentos, a demanda continua forte. "O mercado interno ainda não sentiu desaceleração", afirmou o presidente da Shell Brasil, Vasco Dias. Segundo o executivo, a empresa está otimista e mantém firme o plano de investimento de US$ 200 milhões neste ano. O presidente da rede de fast food McDonald's no país, Sérgio Alonso, disse que acabou de fechar os números do mês de abril com um aumento de 20% das vendas sobre o mesmo mês do ano passado. "Foi o melhor mês neste ano e estamos otimistas." O segmento hoteleiro também parece não ter visto sinal de crise até agora. "A ocupação dos hotéis está muito alta", afirmou Chieko Aoki, presidente do grupo Blue Tree Hotels. Em sua avaliação, o setor hoteleiro é um termômetro da economia. "Quando as empresas enfrentam desaceleração, uma das primeiras coisas que fazem é cortar viagens de executivos e treinamento de funcionários em hotéis. Isso não está acontecendo agora." A empresária acredita, no entanto, que os efeitos poderão ser sentidos no segundo semestre. Avaliação semelhante tem Rogério Oliveira, gerente geral da IBM Brasil. "O setor de tecnologia da informação está se recuperando desde o ano passado e está se mantendo assim. Hoje estou preocupado em ganhar mercado e expandir." Benjamin Steinbruch ressalvou que o "tranco" na economia brasileira e também global já era esperado. "Será um processo passageiro, pois acredito que no segundo semestre haverá retomada. A economia como um todo vai voltar", afirmou. Em sua avaliação, três fatores inibidores da atividade econômica que eram esperados, não se materializaram. "O petróleo não chegou a US$ 100 o barril, o juro americano está subindo suavemente e a queda drástica de demanda dos países asiáticos não aconteceu."