Título: Governo argentino vai monitorar calçados
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Brasil, p. A-3

O governo argentino deu ontem um sinal de que vai fazer um monitoramento mais rigoroso da entrada de calçados brasileiros no país. De acordo com uma disposição publicada no diário oficial argentino, os importadores de calçados terão de registrar as operações que realizam por meio da obtenção de uma licença automática junto à Secretária de Indústria. Diferentemente das licenças não-automáticas, a nova exigência não representa uma trava às importações, mas permite que as autoridades façam um monitoramento mais rigoroso e rápido do fluxo comercial. O governo e o setor privado argentino estão preocupados com o que consideram ser um aumento excessivo das exportações brasileiras de calçados, e os empresários locais querem que as autoridades imponham algum tipo de restrição ao fluxo comercial. No início deste ano, o presidente da Abicalçados, Elcio Jacometti, estimou que as exportações brasileiras em 2004 ficariam em cerca de 13 milhões de pares, mas não assumiu qualquer compromisso de limitar os embarques de calçados brasileiros à cifra. Do lado argentino, a reivindicação é que o governo restrinja as importações caso as exportações superem essa marca. Até setembro, haviam sido exportados para a Argentina 9,83 milhões de pares, segundo a Câmara de Produção e Comércio Internacional de Calçado e Afins (Capcica). Nos próximos meses tanto as exportações quanto a pressão dos produtores argentinos por proteção devem crescer. Com a proximidade do verão, aumenta o consumo de sandálias de borracha e plástico, que tem valor unitário baixo, mas podem elevar substancialmente o volume de pares importados. " Seria ridículo colocar restrições aos calçados por causa do aumento das exportações de sandálias " , disse Juan Dumas, presidente da Capcica. Segundo ele, a pressão do setor não se justifica, pois todas as fábricas de calçados da Argentina estariam trabalhando com capacidade plena, o que derrubaria o argumento de que o crescimento das exportações brasileiras está ocupando espaço da produção nacional. " Isso significa que qualquer restrição que se aplique vai gerar um problema de desabastecimento, e isso sempre se resolve com aumento de preços " , afirma ele. " É muito mais agradável para o empresário quando não há competição e ele pode fixar os preços " . Dumas diz que uma prova de que a indústria nacional está trabalhando à plena capacidade é o aumento da importação de componentes usados na fabricação de calçados, que cresceu 120% na comparação com 2003, contra um aumento geral das importações do produto acabado de 66,3% até o mês passado. O principal argumento dos calçadistas argentinos para pedir proteção é o fato de terem sido muito afetados pelo processo de abertura da economia na década de 90 e posteriormente pela desvalorização do real, em 99, que fizeram com que as exportações brasileiras superassem 20 milhões de pares por ano.