Título: Empresários pedem proteção contra vinho argentino
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Especial, p. A12

Os fabricantes brasileiros de vinho querem proteção contra a "invasão" do produto argentino no mercado local. Representantes do setor se reúnem amanhã, em Brasília, com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Na pauta de reivindicações, está a adoção de cotas para a entrada do produto argentino e a segmentação do mercado. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA), Flávio João Piagentini, o Brasil importa 112 milhões de litros de vinho da Argentina por ano. O produto chega ao país sem pagar imposto de importação, beneficiado pelas regras do Mercosul. O Brasil produz cerca de 500 milhões de litros de vinho. Os "vinhos de mesa", que são tradicionalmente mais baratos, respondem por 80% do total importado da Argentina. Piagentini estima que uma caixa de 12 garrafas desse produto chegue ao Brasil custando entre US$ 4 e US$ 7. Já uma caixa de vinho brasileiro da mesma qualidade sai por R$ 36, ou US$ 14. "Os custos de produção da Argentina são menores que no Brasil, porque o clima é mais favorável e os produtores pagam menos impostos. Ninguém quer proibir a importação de vinho de qualidade. Mas esses valores não pagam nem a embalagem", afirma Piagentini. Ele diz que o setor também desconfia que volumes expressivos de vinho chegam ao Brasil contrabandeados do Paraguai. De acordo com a ABBA, o Paraguai é o segundo maior importador de vinho da Argentina, adquirindo 222 milhões de litros por ano - praticamente o dobro do importado pelo Brasil. Diversas entidades ligadas a cadeia produtiva do vinho se reúnem hoje no ministério da Agricultura para preparar as reivindicações que serão entregues ao ministro Furlan. Estarão presentes representantes de fabricantes de vinho como Aurora, Miolo, Piagentini e Salton. Na avaliação de Piagentini, o país deveria restringir a importação de vinho argentino a uma cota máxima de 600 mil caixas por ano. Hoje são importadas 1 milhão de caixas. O Brasil já aplica cotas para a importação de vinhos chilenos. Como o país é membro-associado do Mercosul, é aplicada uma taxa de importação de 16%. Para os vinhos provenientes de outras origens, a tarifa chega a 27%. No caso do Chile, as cotas são progressivas. Ou seja, as tarifas vão aumentando gradativamente conforme o volume embarcado. Piagentini diz que esse sistema é falho, porque privilegia os grandes importadores, que conseguem as melhores cotas, e prejudica as pequenas empresas. Os produtores e importadores brasileiros também solicitam a segmentação do mercado, que significa separar as atividades que podem ser exercidas por cada elo da cadeia. Na prática, o setor quer evitar que os varejistas importem vinhos diretamente da Argentina e do Chile. Eles argumentam que isso aumenta o poder de barganha dos varejistas e deprime os preços. Segundo Piagentini, a segmentação é adotada nos Estados Unidos.