Título: Sukhoi e Embraer podem conviver no mercado brasileiro, diz ministério
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Brasil, p. A-4

O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia brasileiro, Carlos Augusto Azevedo, disse ao Valor que os aviões de caça da empresa russa Sukhoi são os melhores do mercado. Ele afirmou, também, que apesar do forte lobby da Embraer para que o governo brasileiro não adquira os aparelhos russos, por ser parceira da francesa Dassault, que fabrica o Mirage, as duas empresas não são concorrentes diretas, o que permite que atuem no mesmo território de forma complementar. "A Sukhoi fabrica o melhor avião do mundo para guerra", defendeu o secretário-executivo em Moscou, onde esteve para discutir projetos de cooperação tecnológica. Em sua visita à Rússia nesta semana, o vice-presidente brasileiro, José Alencar, esteve na planta da Sukhoi, mas nada comentou sobre a licitação para a compra de 12 novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), que totalizam um investimento de US$ 700 milhões. A exportação de aviões para o Brasil é um dos itens mais importantes para a Rússia, que busca ampliar a corrente comércio com o Brasil, hoje em cerca de US$ 2 milhões, e reduzir o déficit na balança comercial com o país. Para alguns analistas brasileiros, atrás do embargo da carne brasileira estaria também uma pressão do governo russo para que o Brasil opte pelas aeronaves da Sukhoi. O governo russo, oficialmente, diz que a suspensão da compra das carnes tem motivação sanitária. Azevedo vê com bons olhos a aquisição dos caças, pois além das vantagens dos aviões da Sukhoi em questões técnicas, comerciais e de transferência de tecnologia, o negócio poderia levar investimento direto estrangeiro ao Brasil. Isso porque a Sukhoi tem interesse de se instalar no Brasil e ter no país um pólo de exportação para a América Latina. Segundo cálculos do secretário-executivo, a construção da fábrica implicaria investimento acima de US$ 1 bilhão apenas para começar a funcionar. "Se isso ocorrer, a empresa poderá criar novos nichos de produção e domínios de outras tecnologias que não temos. Desta forma o setor de aviação se firmará cada vez mais no país", comentou. Para ele, muitos componentes utilizados para a fabricação de aviões da Embraer são importados e com a entrada da Sukhoi, alguns deles poderiam ser produzidos no Brasil. "Seria um modelo da indústria automobilística, que tem as montadoras e um conjunto de subsidiárias", observou Azevedo. Mas, segundo Azevedo, é preciso criar regras para a entrada da empresa no Brasil. "Não podemos fazer as loucuras que o Collor fez". (RB)