Título: Real mais caro ameaça exportação da Volks
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Empresas &, p. B9

A Volkswagen terá de rever a estratégia de exportações dentro de três meses a perdurar o câmbio dos últimos dias, disse ontem o presidente da montadora no Brasil, Hans-Christian Maergner. A Volks é a quinta maior exportadora do país. Suas vendas no exterior responderam por 3,24% do superávit da balança comercial brasileira no ano passado. A declaração do presidente da Volkswagen sobre a possibilidade de o real valorizado atrapalhar as vendas externas reforça informações que os presidentes da General Motors e da Fiat, Ray Young e Cledorvino Belini, respectivamente haviam antecipado ao Valor nos últimos dias. A Fiat já reduziu o programa de exportação e o presidente da General Motors disse que a companhia só tem fôlego de mais três meses no atual ritmo cambial. "Do ponto de vista financeiro, no momento as exportações são uma catástrofe", disse Maergner. Segundo ele, a soma da valorização do real com a pressão de custos de matérias-primas leva a uma "situação crítica". O executivo lembrou em um ano e meio o dólar desvalorizou 50%. "Hoje não estamos ganhando nenhum centavo com a exportação", acrescentou. Maergner não adiantou as projeções que haviam sido feitas para 2005. Em 2004, a montadora exportou 200 mil veículos completos, o que representou um crescimento de 25% em comparação com 2003. A tendência era de os volumes enviados ao exterior aumentarem por conta da conquista de novos mercados para carros como o Gol e, principalmente, de um grande contrato de exportação do modelo Fox para a Europa, onde o carro brasileiro está sendo lançado neste mês. Maergner disse que a América Latina ainda é, entretanto, o principal foco das exportações da empresa. A Volkswagen é a maior exportadora do setor automotivo. Fechou 2004 com faturamento recorde no comércio internacional de US$ 1,55 bilhão, incluindo veículos completos, kits de carros desmontados e componentes. O volume de peças e acessórios enviado ao exterior, principalmente para o México, resultou num faturamento de US$ 45 milhões, o equivalente a um crescimento de 66% na comparação com o ano anterior. No total, a montadora alemã obteve superávit de US$ 1,092 bilhão na sua balança comercial em 2004. A queixa de Maergner a respeito do câmbio ontem foi feita logo depois de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fazer um discurso com foco na questão cambial dentro da própria Volkswagen. Num evento que reuniu autoridades, direção local e mundial da Volks, empresários, sindicalistas e trabalhadores para a comemoração de 15 milhões de veículos produzidos pela montadora, no país há 52 anos, Lula sugeriu a formação de uma "comitiva" para que a queixa sobre o câmbio seja feita "onde efetivamente está a razão da desvalorização do dólar". "O câmbio é um problema com a política americana; não é no Brasil, e todo o empresário sabe disso; este não é um problema que nós possamos resolver aqui, como alguns imaginam", disse Lula a uma platéia que incluía fornecedores e concessionários. Segundo ele, "salvo alguns setores, os demais estão produzindo e exportando bem". Para Lula, a prova está no resultado da balança comercial. Segundo ele, "Não é pouca coisa" o saldo comercial que o país tem registrado. Lula disse, ainda, que o país "construiu uma política de comércio exterior que nos permite afirmar que não há incompatibilidade entre exportação e mercado interno". Segundo ele, o país abandonou as políticas do passado que ora privilegiavam a exportação e ora o mercado interno. Por outro lado, Lula lembrou o ingresso dos 15 países na União Européia e alertou para o risco de o Brasil perder competitividade para essas nações. "Temos condições de conseguir que esses países não se transformem num chamariz de investimentos dos demais países europeus, que tradicionalmente investem no Brasil". destacou.