Título: Grupo português colhe a sua primeira safra na BA
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Agronegócios, p. B16

Os irmãos portugueses Ricardo e Paulo Mota vão colher neste ano sua primeira safra de algodão e de soja no Brasil. Se depender do ânimo dos portugueses, será a primeira safra de muitas que ainda virão. Instalados no Oeste da Bahia desde o final do ano passado, os irmãos Mota querem fazer do país sua base exportadora de matéria-prima para as indústrias de fiação de sua família, instaladas em Portugal. Proprietários de duas indústrias de fiação e tecelagem em Portugal - a Mota & Fernandes -, os irmãos Mota desembarcaram no Brasil no ano passado, atraídos pelos baixos custos de produção da matéria-prima no país e pela na melhora da qualidade do algodão brasileiro. No ano passado, eles firmaram sociedade com o produtor João Carlos Jacobsen Rodrigues na compra de uma fazenda de 8,1 mil hectares na cidade baiana de Luiz Eduardo Magalhães. Os valores envolvendo a sociedade não foram divulgados pelas partes. Um dos pioneiros na abertura da fronteira agrícola no Oeste da Bahia, Jacobsen, que é natural do Paraná, cultiva há mais de dez anos café, algodão, soja e manga, na região, em uma área total de 7,2 mil hectares. Jacobsen também acumula as vice-presidências da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba). "Os empresários portugueses sondaram os mercados brasileiro e africano, mas optaram pelo país, uma vez que a instabilidade econômica na África afasta os investimentos", disse Jacobsen. Segundo ele, os portugueses estão interessados em aprender sobre a cultura de algodão no Brasil para depois arriscarem a dar seus próximos passos sozinhos. "Recebemos visitas de vários produtores estrangeiros interessados na região." Mota disse que o primeiro contato do grupo com o Brasil foi como consumidor de algodão. "Deveremos ter uma colheita de 3,4 mil toneladas de algodão em pluma nesta safra", disse o empresário. Para a soja, a primeira colheita está estimada em 156,6 mil sacas de 60 quilos, em uma área plantada de 2,7 mil hectares. Do total da produção de algodão que será colhida, em uma área de 2,1 mil hectares, Mota disse que pretende exportar 85% para Portugal, onde o produto será aproveitado nas fiações da família. O consumo anual das fiações da família é de até 12 mil toneladas por ano. Em entrevista ao Valor no ano passado, os empresários já tinham sinalizado que investiriam em uma indústria de fiação e tecelagem no país. Contudo, o projeto foi adiado neste primeiro momento, informou Mota. Segundo ele, os planos de expansão deverão ser concentrados no aumento de área plantada para algodão na próxima safra, em mais 200 hectares pelo menos, na aquisição de uma máquina beneficiadora de algodão e também em equipamento HVI (High Volume Instruments), máquina de alta precisão que permite a classificação computadorizada das fibra de algodão. Nos últimos dois anos, a Bahia tornou-se o segundo maior produtor de algodão do país. Nesta safra, a expectativa é de que a colheita atinja 316,1 mil toneladas, volume 19% maior que o ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No oeste baiano, a colheita está estimada em 280 mil toneladas. O volume poderia ter sido maior se não fosse a incidência do bicudo na região.