Título: Fôlego recuperado
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 09/03/2010, Economia, p. 14

Forte retomada de investimentos produtivos recolocou o país no rumo do crescimento econômico a expansão já atinge taxa anualizada de 8,6%. Mas o PIB de 2009 deve fechar negativo

Os investimentos produtivos comandaram a forte retomada da economia brasileira no último trimestre de 2009. Se as contas dos analistas estiverem corretas, a formação bruta de capital fixo (FBCF), que contabiliza os desembolsos dos empresários para o aumento das fábricas, cresceu aproximadamente 13% na comparação com os três meses imediatamente anteriores e algo como 10% frente ao quarto trimestre de 2008. Foi uma retomada boa de se ver. Não podemos esquecer que o aumento se deu sobre uma base forte, pois, no terceiro trimestre, os investimentos haviam avançado 6%, disse a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander.

Com a maior disposição do empresariado em investir e a força do consumo das famílias, sustentado pelo aumento do emprego e da renda, Luíza acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,1% no quarto trimestre do ano passado ante o terceiro. Anualizada, a taxa mostra que o Brasil encerrou 2009 com um ritmo de expansão de 8,6%, comportamento muito próximo do verificado na China. Apesar desse salto espetacular, no entanto, no acumulado do ano, o PIB apontou, pelos cálculos da economista, retração de 0,2%, mostrando que o impacto da crise mundial nos primeiros meses de 2009 foi profundo e os estragos não foram zerados por completo. Os dados oficiais serão divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Estímulos

Para Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento, o incremento da economia nos últimos três meses de 2009 foi tão forte que 2010 começou com crescimento garantido de pelo menos 3% (o chamado carregamento estatístico). Ele ressaltou, porém, que, nos próximos trimestres, veremos a atividade se desacelerando, devido à retirada dos estímulos fiscais dados pelo governo no auge da crise, com a redução de impostos sobre automóveis e eletrodomésticos. Serrano prevê que o PIB encerrará este ano com um salto de 5%. Luíza, do Santander, estima 4,8%.

No entender dos economistas, muita gente vai se frustrar com o número fechado do PIB. Mas, o importante, segundo eles, é que o Brasil conseguiu se recuperar rapidamente da crise, depois de um forte tombo que levou à recessão. Tanto que os investimentos dispararam no último trimestre, devendo se expandir pelo menos mais 10% em 2010, e o consumo das famílias se manteve resistente.

Pressão menor sobre a inflação

O forte aumento dos investimentos produtivos no fim de 2009 será o ponto principal a ser destacado pelo governo assim que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) liberar, na quinta-feira, o resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) de 2009. Já há um discurso pronto, principalmente, em torno do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que, com a formação bruta de capital fixo (FBCF) se expandindo a taxas de dois dígitos, não há riscos de inflação de demanda mais à frente. Ou seja, será um motivo a mais para o Banco Central não elevar a taxa básica de juros (Selic) a partir da próxima semana, como espera 60% do mercado financeiro.

Na opinião de Luíza Rodrigues, do Banco Santander, apesar de positivo, o esperado incremento dos investimentos no quarto trimestre de 2009 não reduz as fortes pressões inflacionárias de curto prazo, que justificam uma alta imediata dos juros. Temos de levar em consideração que os investimentos para a expansão das fábricas levam de oito a 12 meses para maturar. Quer dizer: eles serão importantes para, no médio e longo prazos, garantir a maior oferta de mercadorias, explicou.

A visão é compartilhada pelo economista-chefe da Personale Investimentos, Carlos Thadeu Filho. Eu, particularmente, acho que o BC deveria ser mais duro e começar o processo de alta dos juros com um aumento de 0,75 ponto percentual em vez do 0,5 ponto esperado pelo mercado, afirmou. Seria a melhor forma de reverter, mais rapidamente, as expectativas inflacionárias e ancorá-las novamente no centro da meta do governo, de 4,5%.(VN)