Título: "Não se pode brincar com a economia"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2005, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, segunda-feira, do evento comemorativo do 5º aniversário do Valor. Durante a solenidade, Lula discursou para uma platéia de mais de 500 pessoas, na sede da Fiesp, em São Paulo. O discurso, na íntegra, foi o seguinte: Quando eu me levantei para falar, com um catatau de papel, o João Marinho [João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo], se assustou. Daria um "especial dos 41 anos de aniversário da Globo". Mas, como nós estamos aqui para comemorar os cinco anos do jornal Valor Econômico, eu queria dizer a todos vocês que, se puderem, quando chegarem em casa, hoje ou amanhã, se são daqueles que costumam guardar jornais antigos, é preciso fazer uma comparação do jornal Valor de cinco anos atrás com o jornal Valor de hoje. Não apenas para que a gente possa medir a evolução, a qualidade, tanto editorial, quanto a qualidade, ou não, dos números da economia brasileira. Não pode ter referencial melhor para que a gente avalie corretamente o Brasil de 2000 com o Brasil de 2005, se a gente ler pelo menos uma semana do Valor de 2000 e ler agora, de 2005. Nós vamos perceber que as coisas estão mudando, e mudando de forma definitiva, para que a gente não seja mais vítima de nenhum modelo, de nenhuma política que nos deixa alegres e felizes durante a noite, muitas vezes pensando até que somos mais ricos do que somos, e acordamos, no dia seguinte, mais pobres ou pobres como éramos antes. Sabem vocês que, nesses dois anos e quatro meses de governo, nós temos trabalhado, primeiro, para combater a depressão, quando deparamos com uma notícia de jornal dando a impressão de que o Brasil acabou. E, ao mesmo tempo, trabalhamos para conter a euforia quando, no mesmo jornal, sai uma matéria extremamente favorável ao governo. Quando achamos que o governo tem que ter um procedimento - como se fosse um ponto de equilíbrio, o pêndulo - para que a gente não se deixe trabalhar pelas euforias ou pelas depressões, mas trabalhar com uma definição de objetivos muito bem consolidada na cabeça daqueles que têm a obrigação de elaborar tanto a política de desenvolvimento quanto a política econômica e social do país. Não foram poucos os momentos em que parecia um desafio inatingível, para alguns até inalcançável, quando a gente se propôs a fazer uma política de comércio exterior mais arrojada do que a que aconteciam até então no Brasil. Uma política acreditando que era necessário diversificar, tornar mais plurais os parceiros, os vendedores e os compradores das coisas que o Brasil quer comprar, e das coisas que o Brasil quer vender. Eu me lembro que foi na sede da CNI, em Brasília, no primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, que eu disse que tinha vontade de criar uma secretaria de comércio exterior, especializada no comércio, para colocar nela um mascate, alguém que colocasse os produtos do Brasil embaixo do braço e fosse bater palma de porta em porta para tentar convencer, como o mascate convencia as nossas mães a comprarem as coisas 35, 40 anos atrás, para quem já tem a minha idade. Foi exatamente isso que nós fizemos. Os resultados estão aí para quem quiser ver. Nós atingimos, ontem, a cifra de US$ 104 bilhões com o comércio exterior, com superávit de US$ 37, 6 bilhões. São dados frescos, Palocci. O Furlan me ligou de São José do Rio Preto para me contar esses números. E obviamente que isso é alentador, e é alentador porque demonstra que o Brasil tem um leque de opções para fazer comércio exterior sem precisar ficar dependendo apenas das duas economias já consolidadas, estabilizadas, de um lado, os Estados Unidos da América do Norte, que são um grande parceiro - nós precisamos, agora, nos dedicar um pouco mais a fazer com que seja fortalecida a nossa relação com os Estados Unidos no âmbito comercial - e, ao mesmo tempo, com a União Européia, com um agravante que nós temos que levar em conta: a União Européia adotou 15 novos filhos, 15 novos países do Leste Europeu foram adotados como filhos da forte União Européia, portanto, filhos mais empobrecidos, em que a União Européia vai ter que gastar, obrigatoriamente, parte da sua energia política e da sua energia econômica para ajudar esses países a se desenvolverem, porque senão essa conformidade de União Européia acrescida terminará sendo um grave problema político para a Europa, e não uma solução. Ora, o que está acontecendo nesse momento? Primeiro, nós tiramos uma carga ideológica muito forte que estava na questão da Alca. Ou seja, ser favorável à Alca parecia ser subserviente aos Estados Unidos. Não concordar com a Alca tal como ela estava, a partir dos próprios documentos da Federação das Indústrias de São Paulo, era ser xiita, radical e antiimperialista. Na medida em que nós definimos uma ação de governo, e resolvemos correr o mundo e fazer com que as opções do Brasil se alargassem, e que nós pudéssemos distensionar essa discussão que estava colocada muito precipitada e com uma carga ideológica muito grande, o que aconteceu, na verdade? Primeiro, para os descrentes, a nossa relação comercial com a África cresceu 48%, e pode crescer mais; a nossa relação com o Oriente Médio cresceu 64%, e pode crescer muito mais; e a nossa relação com a América do Sul cresceu 58%, e pode crescer muito mais, basta que nós acreditemos que o mundo é maior do que as relações costumeiras que estávamos habituados a fazer, e que mercados como Estados Unidos e União Européia, que são extremamente importantes, também têm certa limitação, na medida em que eles, pela sua forte economia, são as relações preferenciais de todos. Na verdade, é a noiva que todo mundo quer ter, é o noivo que todo mundo quer ter, mas que nem todos conseguem chegar perto com a força que deveriam chegar. Por isso, nós fortalecemos nossa relação com a China, com a África do Sul, por isso estamos fortalecendo nossa relação com a Rússia, por isso vamos, agora, para o Japão e para a Coréia, e eu espero que muitos empresários brasileiros estejam dispostos a pegar um avião e ir para o Japão para podermos fazer negócios. Os companheiros da Única, aqui representada pelo Eduardo [Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Única], sabem que vamos ter que chegar ao Japão falando uma única linguagem sobre o etanol; não tem a linguagem da Única e do outro grupo, não tem a linguagem do governo e da Única, nós vamos ter que chegar lá falando uma única linguagem, um único discurso, porque nós temos o objetivo de fazer com que os japoneses passem a adotar o etanol como seu combustível e, de preferência, o etanol produzido no Brasil por brasileiros. Para podermos fazer isso, temos que ter mais seriedade do que apenas querer vender. É preciso assinar um contrato de longo prazo e garantir o fornecimento, porque na hora em que nós estamos oferecendo combustível, temos que oferecer seriedade e compromisso muito sério.

"Nós não queremos afrontar os americanos não, não sou louco! O que nós queremos é tratá-los como eles nos tratam"

Ao mesmo tempo, estamos produzindo uma outra coisa, para a qual os senhores, certamente, estão atentos. Há muito tempo nós não tínhamos o prazer de poder chegar em uma reunião e dizer que nós estamos tendo um superávit na conta de turismo, muito grande. No primeiro trimestre, tivemos US$ 1, 8 bilhão de entrada via Banco Central. Se levarmos em conta mais 30% que entra na cadeia de hotéis e no transporte, nós estaríamos com um US$ 1, 3 bilhão, tendo um superávit razoável para um setor que todos sempre falaram que era novidade na geração de emprego no Brasil, que é a fonte mais geradora de emprego, que é uma fonte que pode ser dinamizada, mas é só lembrar que o turismo, no Brasil, já esteve ligado ao Ministério da Agricultura, ao Ministério do Esporte, sempre foi tratado como ministério penduricalho, um apêndice de alguma coisa mais importante. Nós, na medida em que acreditamos que o turismo pode ser uma grande fonte de desenvolvimento do país, criamos um ministério com cara, com programa, e resolvemos vender ao mundo as coisas boas que o Brasil produz, porque as coisas ruins, não falta quem divulgue. Minha mãe dizia sempre: "Meu filho, notícia boa engatinha, notícia ruim corre". Então, nós temos a determinação de viajar o mundo vendendo as coisas do Brasil. A Fiesp participou, discutiu. Criamos uma marca do Brasil, em que nós acreditamos que todos os produtos exportados terão a cara do Brasil. Aliás, essa é a cara do Fox, da Volks, que nós vimos hoje na Volkswagen, pintado quase com as cores da nossa marca, para todo mundo saber que este país tem uma marca, e seus produtos irão ser vistos em qualquer lugar do planeta, com uma única cara. Tudo isso não poderia ser feito se não houvesse a crença e a vontade dos empresários em acreditar que aquilo que estávamos falando era verdadeiro. Para que nós chegássemos à situação que chegamos hoje, temos que ver quais foram os caminhos que percorremos. O aperto de 2003 não foi uma tarefa fácil, todo mundo sabe que foi uma tarefa extremamente difícil. Meu companheiro Ivoncy Ioschpe [presidente do Institudo de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)]é que sabe quantas vezes nós conversamos, e quantas vezes líamos, dizendo: "O Brasil acabou. Definitivamente acabou. Foi para o beleléu". E nós entendíamos que, não só não tinha acabado, como era preciso fazer aquele esforço para que pudéssemos consolidar, com uma certa tranqüilidade, a volta do crescimento econômico deste país. E nós estamos conseguindo isso, porque muitos e muitos de vocês não só acreditaram, mas trabalharam. Muitos, no jornal Valor, escreveram favoravelmente a essa determinação do governo de não permitir que, ou a eleição municipal, ou a futura eleição presidencial, determinassem a gastança deste país, a política de juros neste país. Vocês estão lembrados que faltavam 15 dias para a eleição da prefeitura de São Paulo e nós aumentamos os juros, coisa que não é habitual fazer no Brasil. No Brasil, normalmente, as pessoas esticam a corda até passar as eleições. Passaram as eleições, solta a corda, e fica quem quiser com o prejuízo. Por experiência, eu sei que arrebenta do lado mais fraco. Foi assim com o Plano Cruzado, com a necessidade da desvalorização cambial. Todos nós conhecemos a história. Em tempo de eleição, ninguém quer mexer com nada; perto de eleições, todos apresentam soluções fáceis. Possivelmente, estejamos vivendo um momento diferente, porque não tenho a minha vida marcada por uma eleição. Eu construí uma história, essa história é o único legado que posso deixar para este país. E eu aprendi, na minha vida, que não se pode brincar com economia. Você faz aventura em qualquer lugar do mundo, pode até subir uma montanha pendurado numa corda, mas, na economia, você tem que agir com seriedade, principalmente num país que tem a vulnerabilidade que nós ainda temos. Eu chamava a atenção, outro dia, tanto do governo e, também, na entrevista coletiva, que é importante medir - aliás, o jornal Valor tem dado isso muito bem - a quantidade de recursos que não estavam previstos estar no mercado, e que estão no mercado; a quantidade de esforço, por conta do dinheiro, por conta do Bolsa-Família; a quantidade de dinheiro por conta do Estatuto do Idoso; a quantidade de dinheiro por conta do crédito consignado; a quantidade de dinheiro, agora, por conta da extensão aos aposentados; a quantidade de dinheiro, porque os trabalhadores estão tendo acesso a juros bem mais baratos do que tinham antes. E tudo isso ainda não é suficiente se nós não tivermos a competência de, nos próximos anos, fazer com que o déficit da Previdência Social diminua e que a gente possa ter as contas da Previdência mais ou menos equilibradas. Por isso, nós vamos jogar pesado, e está anunciado que nós vamos conter esse déficit e fazer com que a nossa Previdência passe, definitivamente, se não a ser superavitária, a não ser um bolsão de prejuízo ao Orçamento da União, como tem sido, nos últimos anos. Ao mesmo tempo, anotamos na LDO que mandamos ao Congresso Nacional, que não apenas vamos limitar o dinheiro, via Receita Federal, em 16%, como vamos limitar os gastos em 17%. Tudo isso porque nós achamos que o Brasil não pode jogar fora essa chance. O Brasil não pode jogar fora e perder uma chance excepcional de se consolidar, de sair desse patamar de país emergente, de sair desse patamar de país em vias de desenvolvimento. Nós precisamos nos transformar num país em desenvolvimento de forma definitiva e, para isso, nós estamos trabalhando fortemente nessa participação e nessa luta com os nossos adversários econômicos, sobretudo no mundo comercial que, quem sabe, quem já brigou - o Rubens Barbosa está aqui, o nosso querido sempre embaixador - sabe que essa disputa é difícil, sabe como os americanos são duros na queda, sabe como eles são duros. E o que eu dizia para o Rubens, desde a primeira vez que me encontrei com ele? Nós não queremos afrontar os americanos não, não sou louco! O que nós queremos é tratá-los como eles nos tratam, é dizer a eles que nós queremos os mesmos direitos que eles querem. E, na lógica comercial, é a única chance de nós levarmos, pelo menos, o jogo para o empate e não perder de goleada, como sempre perdemos.

"Passei parte da vida gritando 'fora FMI'; de repente, sou presidente e saímos do FMI pela porta da frente, sem um grito"

Eu sei que há muitos empresários, Paulo [Paulo Skaf, presidente da Fiesp] - e é importante, nós vamos discutir isso no governo - preocupados, porque em alguns setores está entrando muito, principalmente para o setor têxtil, a indústria chinesa, os produtos chineses, você está lembrado disso. Agora, é importante que num processo de educação da sociedade brasileira, a gente se lembre de que a entrada dos produtos chineses no Brasil não tem nada a ver com a recente aliança Brasil e China, tem a ver com a Rodada Uruguai de 1994, que estabeleceu para 2005 o fim da cota, e vale para o mundo inteiro. Então, é uma coisa que foi feita 11 anos atrás, e que se nós não nos preparamos nesses 11 anos, vamos ter que nos preparar agora. Porque se a gente bem conhece o potencial de produção dos chineses, eles vêm fortes. E nós, ao invés de ficarmos chorando, temos que nos preparar. É preciso que a gente pare de se achar coitadinho. Nós temos problema no setor de calçados? Vamos discutir com o setor de calçados, vamos procurar novos mercados. Porque, de repente, eu vejo pessoas querendo que o Palocci determine quanto vai ser o dólar, os mesmos que, algum tempo atrás, pediam para que o dólar fosse flutuante, que o câmbio fosse flutuante. Ora, nós vamos fazer reuniões, Paulo Skaf, com todos os setores, com todos que estão se sentindo mais ou menos prejudicados, que estão deixando de vender. Vamos ajudá-los a procurar novos mercados, vamos melhorar a nossa qualidade, vamos ver se nós conseguimos reduzir custos para dar a eles maior densidade de produção, mais preço, mais custo, para que a gente tenha vantagens comparativas. O que a gente não pode é ficar parado assistindo as coisas acontecerem, porque isso nós já vimos. Todo mundo aqui se lembra da euforia que o nosso querido companheiro Dílson Funaro, vice-presidente desta Casa e ministro da Fazenda, por ocasião do Plano Cruzado, todo mundo viu a euforia, quando a gente disse que "nós vamos fazer moratória com o FMI". E, depois, nós vimos o desastre que aconteceu neste país. Eu, que passei parte da minha vida gritando "fora FMI" - não sei se aqui alguém gritou, eu gritei muito -, de repente sou presidente da República e nós saímos do FMI pela porta da frente, sem um único grito, apenas dizendo: olha, construímos a base necessária para que a gente possa sair, não precisamos mais. Se um dia precisarmos, voltaremos de cabeça erguida, porque somos cotistas do FMI. Não precisei fazer nenhum discurso ideológico. Pelo contrário, até pedi voto para o atual presidente do FMI, veja que evolução. Essas coisas, meus companheiros, acontecem com a participação do Senado, da Câmara dos Deputados, porque as leis que nós passamos no Congresso não foram fáceis, outros tentaram passar; a reforma tributária, que ainda falta uma parte, a parte que depende dos governadores; a reforma da Previdência, que vai começar a dar resultados num médio prazo: a reforma do Poder Judiciário, a Lei de Falências, a Lei de Biossegurança, não foram poucas as coisas que nós fizemos, e as PPPs, e passaram. Tem muita gente que, às vezes, vende a idéia que o Congresso é inimigo do Executivo, que o Executivo é inimigo do Congresso. Veja, nós vivemos uma relação das mais democráticas possíveis, civilizada. A eleição do companheiro Severino é a eleição do resultado de um debate interno da Câmara. O Severino, como qualquer outro brasileiro, como o Renan, como qualquer outro, vai ter a maior responsabilidade em fazer com que as coisas aconteçam da melhor forma possível para o Brasil e nós temos as dificuldades normais. Benjamin [ Benjamin Steinbruch, presidente da CSN], eu vou te contar uma coisa: passei 20 anos da minha vida ouvindo falar da Transnordestina, e agora nós vamos começar a fazer a Transnordestina, obviamente se nós tivermos todo o dinheiro que precisamos e, certamente, vamos ter. Nós vamos este ano, se Deus quiser, começar a revitalização do rio São Francisco. Pode ser que tenha gente que não goste. Eu, se morasse, se tivesse nascido em São Bernardo, onde eu moro, e morasse onde eu moro, com a quantidade de água que tem onde eu moro, até demais, talvez, fosse contra. Mas o Cypriano [Márcio Cypriano, presidente do Bradesco] sabe, que agora está apostando, junto com o Gabriel [Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras], nas cisternas - aliás, ouvi dizer que foi um ato maravilhoso, que até teve muita gente da Febraban que chorou, na semana passada, no ato das cisternas. Veja, eles estão contribuindo com pessoas que não têm contas em banco, aliás, nunca entraram num banco. Já construíram 10 mil ou 20 mil, vão construir mais 10 mil ou 20 mil. Vão ajudar pessoas que carregam um pote d´água na cabeça de 20 litros durante seis léguas, 18 quilômetros, não é brincadeira. Então, vamos levar água para lá. Alguns não querem, porque acham que são donos do São Francisco, mas vamos levar, porque é preciso para desenvolver 18 milhões. E queria falar a vocês sobre o grande programa que vocês têm que estar atentos, que é o programa do Biodiesel. Na minha cabeça, é o grande programa estratégico deste país, um reforço da matriz energética brasileira por um combustível renovável, gerador de empregos que, na minha opinião, terá para o Brasil o mesmo efeito que teve o Pró-Álcool. Só espero que não inventem de produzir biodiesel de cana-de-açúcar, mantenham-se no álcool que vocês vão estar bem. O mundo, depois da aprovação do Protocolo de Kyoto, vai, inexoravelmente, precisar utilizar o biodiesel e utilizar o etanol. Os mais céticos contra a nossa capacidade de produzir ficam dizendo: "Não, mas nos Estados Unidos vai criar um motor tocado a hidrogênio", porque sempre inventam as coisas melhores para eles, para diminuir as coisas que a gente faz. A verdade é que o biodiesel é menos poluente, o biodiesel é mais gerador de empregos e o biodiesel pode fazer a combinação de desenvolver a parte mais pobre do nosso país. E mais ainda, meu querido Roberto Rodrigues, o biodiesel pode ser para a soja aquilo que o álcool é para o açúcar, ou seja, na medida em que não se ofereça um preço razoável pela soja, vamos moê-la e vamos fazer bioediesel e aí, quem sabe, a gente consiga ter um certo equilíbrio do preço da soja para que, também, não fiquem os produtores comendo "o pão que o diabo amassou", por conta das intempéries. Eu tenho certeza de que tudo que eu estou falando aqui vocês já leram no jornal Valor. Não com as palavras que eu estou dizendo, mas com outras, coordenadas pelo Celso Pinto, mais sofisticadas. Mas, de qualquer forma, como dizia Paulo Freire: "A gente tem que caprichar é na escriba. Todo mundo tem que entender, o português tem que ser correto. Na palavra, o que vale é a comunicação.". E, portanto, eu tenho certeza que nós nos entendemos, e o Brasil precisa disso. Muito obrigado e parabéns ao jornal Valor pelos seus cinco anos.