Título: Boa fase pode ser temporária, diz Ozires
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2005, Empresas &, p. B3

O engenheiro Ozires Silva, ex-presidente da Embraer e da Varig, alertou ontem que os bons resultados do setor aéreo brasileiro desde o fim de 2003 podem não passar de uma "bolhazinha" temporária. No ano passado, o mercado doméstico cresceu 11,9% em número de passageiros, mas ainda vive uma crise estrutural, comentou o executivo. "O problema básico persiste: continua faltando um marco regulatório", advertiu Ozires, na abertura do 1º Fórum Brasileiro para o Desenvolvimento da Aviação Civil. Para ele, empresas como Gol e TAM estão em situação financeira mais confortável porque têm frotas novas e não herdaram passivos antigos, oriundos de planos econômicos e controles de tarifas. "Mas quem pode garantir que a Gol não será a Varig amanhã?", questionou Ozires, referindo-se à crise atravessada pela companhia que presidiu. O executivo lembrou que a crise é mundial e os prejuízos de várias companhias estrangeiras chegaram a níveis insustentáveis, mas ressaltou que os problemas no Brasil tem características próprias. Ele mencionou especificamente a lentidão na criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o alto preço dos combustíveis - segundo ele, os tributos respondem por 44% do custo do querosene no país, enquanto a taxação representa apenas 12% nos EUA e zero na Europa. Para Ozires, os problemas do setor aéreo "não se resolvem sozinhos", apenas com maior concorrência. Como controlador dos aeroportos, regulador do mercado e fornecedor dos combustíveis, "o governo não pode lavar as mãos", afirmou. A análise do executivo é diametralmente oposta àquela apresentada pelo governo. Em março, em declarações pouco habituais, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, já havia defendido o aumento da concorrência como solução para o setor. Desde a semana passada, o governo intensificou a avaliação de que o setor não vive uma crise. Essa posição passou a ser fortemente defendida pelos ministros José Alencar (Defesa) e Walfrido Mares Guia (Turismo), além do diretor-geral do Departamento de Aviação Civil (DAC), brigadeiro Jorge Godinho. "Olhando o setor como um todo, as empresas estão bem", reiterou Godinho, ontem. Concordou com ele o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), George Ermakoff, para quem o momento é de "prosperidade". Para ele, as medidas adotadas pelo governo para restringir a oferta foram adequadas, ao propiciar melhor aproveitamento dos vôos existentes e aumentar a rentabilidade das companhias. "Não existe bolha", afirmou Ermakoff. Dados compilados pelo DAC a partir do balanço das companhias mostram que as três maiores aéreas apresentaram boa lucratividade operacional, medida pela receita e pelas despesas de vôo, no ano passado. No caso da TAM, a lucratividade negativa de 3,5% em 2003 passou a ser positiva de 4,05% em 2004. A Gol aumentou de 16,74% para 24,11%. A Varig passou de 4,75% para 2,56%, mas continua lucrativa se consideradas estritamente as suas atividades operacionais. O fórum realizado em Brasília dará origem à Confederação Brasileira de Aviação Civil, congregando segmentos como fabricantes de peças, sindicatos de trabalhadores e as próprias aéreas. Os presidentes de Varig, TAM e Gol não participaram do evento.