Título: Taxa do dólar cai abaixo de R$ 2,50 pela primeira vez em três anos
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2005, Finanças, p. C1

O dólar fechou ontem abaixo de R$ 2,50 pela primeira vez em três anos e deve continuar sua rota descendente com a decisão do Banco Central de não comprar a moeda no mercado à vista e futuro. "Há muitos vendedores e nenhum comprador de dólar", resumiu Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do ING. Os vendedores são os exportadores, que têm trazido muitos dólares ao país, e os investidores internacionais, que têm assumido posições vendidas em dólar nos mercados futuros. As altas taxas de juros em reais oferecidas no país atraem recursos externos. As posições vendidas de estrangeiros na Bolsa de Mercadorias & Futuros, segundo cálculos de especialistas, já ultrapassam os US$ 8,5 bilhões. A decisão do Fed, banco central dos Estados Unidos, de subir os juros básicos em 0,25 ponto percentual, para 3% ao ano, ficou dentro do esperado, assim como o comunicado divulgado após a reunião. Isso trouxe alívio para os investidores externos com posições compradas em reais -não haverá aperto na liquidez internacional maior que o embutido nas curvas de juros americanas. Segundo pesquisa da agência "Bloomberg", o real teve a maior valorização contra o dólar, ontem, entre as 16 moedas pesquisadas às 5h da tarde em Nova York, subindo 0,89%. Segundo os dados da CMA usados pelo Valor, o dólar caiu 0,72% ontem contra o real. Desde o dia 16 de março, quando o Banco Central parou de atuar no mercado, acumula tombo de 9,77%. No ano, o dólar desvalorizou 6,07%. Mas o Banco Central e o núcleo central do governo Lula não têm mostrado preocupação com isso, apesar da grita de alguns exportadores, setores do mercado financeiro e de alguns economistas. Ontem o BC comunicou que, após avaliar condições de mercado, decidiu não realizar leilão de "swaps reversos" esta semana. Por meio desses contratos, o BC comprava dólar no mercado futuro. Ao todo, fez seis leilões desses "swaps reversos". O primeiro foi no dia 02 de fevereiro e o último, no dia 9 de março. Retirou US$ 8,731 bilhões. No início do ano, o BC também vinha fazendo leilões de compra de dólar no mercado à vista. Comprou US$ 2,566 bilhões em janeiro, mais US$ 3,692 bilhões em fevereiro e mais US$ 3,962 bilhões em março, até o dia 16. A autoridade monetária chegou a pagar R$ 2,7490 pela moeda que hoje vale menos do que R$ 2,50. No entender do mercado, o BC voltou a usar a chamada âncora cambial: está mantendo o dólar fraco para baratear as importações e, dessa forma, segurar a inflação. Está também criando um colchão -segura a moeda forte hoje para, em uma situação de aversão ao risco internacional, permitir seu enfraquecimento. Mas alguns especialistas têm criticado a estratégia e argumentado que exportadores já estão adiando ou até cancelando decisões de investimento. "Sem teto para a taxa de juros não há piso para a taxa de câmbio", comenta Alex Agostini, economista da GRC Visão Consultoria. Para ele, a decisão do Fed de manter as expectativas de elevação gradual ("measured pace") da taxa de juros básica nos EUA mantém o cenário de curto prazo de valorização do real, pois as perspectivas de ganhos no mercado de juros americanos são muito baixas, fazendo crescer o apetite por risco. Inicialmente, o mercado externo até viveu alguma turbulência por causa de erro do Fed, que esqueceu de incluir em seu comunicado que as expectativas de inflação de longo-prazo estão "bem contidas". Isso gerou especulações e queda nos preços dos títulos do Tesouro dos EUA. Mas, logo depois, a autoridade monetária esclareceu que a omissão havia sido um engano e os mercados se acalmaram.