Título: Ultrapar ignora queda do mercado e ganha após oferta
Autor: Felipe Frisch e Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2005, EU &, p. D1

Apesar do mau momento da bolsa, empresas que já tinham ações negociadas encontraram espaço para ofertas de ações. O grupo Ultra concluiu a oferta secundária de ações preferenciais (sem direito a voto) da Ultrapar com uma demanda do triplo dos 9,050 bilhões de ações oferecidas no mês passado. Mesmo após o anúncio do novo preço, R$ 40,00 o lote de cem ações no dia 12, a cotação subiu e chegou a R$ 46,30 no dia 29, uma alta de 15,75%. No mesmo período, o Ibovespa recuou 5,2%. Ontem, Ultrapar PN fechou valendo R$ 44,05, ainda contrariando a expectativa dos analistas de que, caso as ações saíssem abaixo do preço de mercado, a tendência seria de um ajuste para baixo. Um dia antes do novo preço, as ações valiam R$ 41,44. Segundo o diretor financeiro da Ultrapar, Fábio Schvartsman, a procura pelas ações após a oferta tem origem nos investidores que querem completar o que não conseguiram comprar na oferta. A valorização das ações também se deveria ao aumento de liquidez, que já era esperado. "Tínhamos 28% do capital em mercado e agora temos 39%", diz Schvartsman. O percentual equivale ao total de ações preferenciais da empresa. Ele cita um relatório do Citibank logo após a oferta revisando os preços alvos para as ações, em vista da retirada do "desconto por liquidez" que havia antes. A empresa tinha 2 mil acionistas antes da operação e passou a 4 mil, pelos cálculos do executivo. Para estimular a pulverização e a liquidez das ações, a empresa garantiu que as reservas menores, até R$ 5 mil, fossem atendidas, sendo as demais divididas igualmente. No total, a operação captou R$ 362 milhões, o equivalente a US$ 140 milhões pelo câmbio do dia 12. Isso porque 75% da emissão foi feita lá fora em ADRs (recibos de ações negociados em Nova York). Do total de ações, 10% foram destinadas ao varejo brasileiro e 7,5% ao americano. Já 82,5% foram para institucionais. Só no varejo, a demanda foi de 2,3 vezes o destinado a este público. O resultado total da operação inclui os 7,869 bilhões de ações oferecidas inicialmente na oferta e mais 15% da oferta adicional, o chamado "green shoe", de 15%. Como a primeira parte se tratava de uma oferta secundária - de papéis já existentes, dos controladores -, isso significa que este grupo embolsou aproximadamente R$ 315 milhões. As demais ações foram resultado de uma oferta primária, de ações novas. "Normalmente, não se vê 'green shoe' de ações primárias, isso mostra que a intenção dos controladores não era sair da empresa, mas aumentar a liquidez dos papéis", diz Fábio Schvartsman.