Título: Queda do dólar não segura inflação em SP
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Brasil, p. A3

A queda de mais de 4,6% na cotação do dólar em abril não foi suficiente para conter e nem amenizar a alta dos preços livres - especialmente industrializados e comercializáveis -, que passou de 0,39% em março para 0,97% em abril, o maior valor desde fevereiro de 2003. O choque de oferta do petróleo, a quebra de safra agrícola e um cenário econômico favorável a repasses do atacado ao varejo barraram o efeito-âncora do câmbio. A cesta de produtos industrializados calculada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), através do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), subiu de 0,11% para 1,1% no mês passado, o maior percentual desde abril de 2003, quando atingiu 1,28%. Os bens comercializáveis foram de 0,12% para 1,14%. "A alta nessas cestas foi forte e o câmbio não conseguiu ajudar a contê-la, como fez em outros meses", comenta Paulo Picchetti, coordenador do IPC. Mas ele ressalta que se o dólar não estivesse tão desvalorizado, a inflação estaria mais alta ainda. Foto: Carol Carquejeiro/ Cia de Foto/ Valor

Paulo Picchetti, coordenador do IPC da Fipe: se dólar não estivesse tão desvalorizado, inflação seria ainda mais alta

Apesar dos alimentos industrializados terem subido 1,52% em abril, a cesta de industrializados também sofreu o impacto da alta dos equipamentos eletroeletrônicos e artigos de limpeza, que avançaram 1,58% e 1,81%. Em abril, o IPC ficou em 0,83%, o maior resultado desde agosto de 2004 (0,99%). Os impactos fortes vieram da alimentação, que subiu 1,55% e dos transportes - alta de 1,32%. O acumulado dos últimos 12 meses evidencia a trajetória ascendente dos preços livres, que se intensificou entre março e abril, subindo de 6,49% para 7,18%. Os administrados foram de 10,43% para 10,59% no período. De outubro de 2004 - quando os preços livres começaram a subir com maior intensidade - a abril de 2005, o acumulado desses preços passou de 6,08% para 7,18%, e dos administrados foi de 5,67% para 10,59%. No entanto, as maiores pressões ficaram por conta do automóvel usado, com alta de 10,89% e contribuição de 0,24 ponto percentual na taxa cheia; do feijão, que subiu 37,66% e impactou em 0,18 ponto percentual; e do seguro de veículo, que ficou 22,5% mais caro e aumentou a taxa em 0,17 ponto percentual. Outras contribuições significativas foram dadas pela alta de preços da refeição fora do domicílio, no automóvel novo e no reparo no domicílio. Para Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, os números mostram que a aceleração da inflação não decorreu somente dos reajustes dos administrados, como tarifas e transporte público. "O atacado repassou os preços do choque agrícola em produtos como óleo de soja e farinha de trigo", afirma. Ao mesmo tempo, a alta do petróleo e o encarecimento de produtos químicos e matérias plásticas impactou preços como os de automóveis e eletroeletrônicos. Na avaliação de Fenolio, "por mais que tenham existido choques de oferta, em um cenário de câmbio favorável e aperto da política monetária, os preços deveriam ter cedido". O que pode explicar a alta da inflação ao consumidor é o desempenho positivo da economia e a evolução da massa salarial. Segundo cálculos da GRC Visão, a massa de salários cresceu 4,8% nos 12 meses terminados em maio. "As empresas aproveitam a maré de otimismo para recompor margens comprimidas", afirma Fenolio.