Título: Brasil toma espaço dos EUA e de outros exportadores no mercado argentino
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Brasil, p. A4

As exportações de produtos argentinos para o Brasil não conseguem deslanchar, apesar do câmbio favorável ao país vizinho e do crescimento brasileiro. O déficit comercial entre os dois países diminuiu em abril, mas dificilmente será revertido até dezembro. Para economistas dos dois países, há um problema estrutural na raiz dos conflitos do Mercosul. O fraco desempenho do setor exportador argentino resulta da falta de crédito, da fuga de empresas durante a crise, e da queda das compras brasileiras de trigo e petróleo. Além disso, o Brasil está ganhando participação no mercado argentino em detrimento de outros parceiros, principalmente os Estados Unidos. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censo da Argentina, o Brasil respondeu por 35,7% das importações do país no primeiro bimestre de 2005, ante 31,5% do primeiro bimestre de 2004. Já a participação dos EUA caiu de 20% para 13,5% na mesma comparação. Em 2004, o Brasil respondeu por 34,5% das importações argentinas, ante 25,9% registrados em 2000. Segundo Dante Sica, presidente do Centro de Estudos Bonaerense (CEB) e ex-secretário da Indústria da Argentina, o câmbio atual beneficia as empresas argentinas, que ainda assim encontram dificuldades em ampliar suas exportações acima do desempenho brasileiro. O dólar está cotado a R$ 2,50 no Brasil e 2,90 pesos na Argentina. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 5,2% em 2004 e deve subir mais 3,5% este ano, o que estimula as compras de produtos argentinos. As importações feitas pelo Brasil (provenientes da Argentina) ganharam algum fôlego. Após cair 2,7% em março de 2005 contra março de 2004, atingiram US$ 514 milhões em abril, alta de 34,2% ante igual mês de 2004, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Brasil. O resultado reduziu em 25% o déficit entre os países na comparação com março. No primeiro trimestre de 2005 em relação ao primeiro trimestre de 2004, o Brasil comprou 56,8% mais em veículos argentinos e 39,8% mais de plásticos e manufaturas, e 59,4% mais de produtos químicos orgânicos. Em contrapartida, as importações brasileiras de cereais caíram 37,3%, de óleos animais e vegetais, 77,4%, e de minerais metálicos, 99,9%. No acumulado de janeiro a abril, as importações brasileiras provenientes da Argentina cresceram 14,6% ante janeiro a abril 2004. No mesmo período, as importações totais do Brasil aumentaram 21,1%. Em 2004, as importações brasileiras subiram 30%, mas as vindas da Argentina subiram apenas 19,26%. Os dados demonstram que as empresas argentinas perdem "market share" no Brasil. "As empresas argentinas estão encontrando problemas para incrementar as vendas", constata Sica. Segundo ele, falta financiamento para a exportação de produtos manufaturados. Por conta da moratória, as empresas argentinas não conseguem crédito no sistema financeiro e o volume de financiamento oferecido pelo governo é insuficiente. Sica explica que as compras brasileiras de trigo e petróleo - tradicionais produtos - estão em queda. Como o Brasil aumentou a produção de trigo, as compras do sócio do Mercosul recuaram de 7 milhões para cerca de 4,5 milhões de toneladas nos últimos quatro anos. O Brasil também está comprando menos petróleo, além de adquirir o produto de fornecedores na África e países árabes. O vigor das exportações brasileiras para a Argentina é outro agravante do déficit bilateral. Para Mônica Baer, economista da MB Associados, é natural que as vendas brasileiras para o país vizinho aumentem mais que o contrário. As estimativas apontam crescimento de 7% a 7,5% para a economia argentina esse ano, enquanto o Brasil deve crescer menos da metade, entre 3% e 3,5%. Em abril, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 764 milhões, alta de 49,8% em relação a abril de 2004. No acumulado do ano, as exportações chegam a US$ 2,796 bilhões, ganho de 39,2% ante o mesmo período do ano passado. (RL)