Título: Rumo aos US$ 100 bilhões
Autor: Juan Quirós
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Opinião, p. A-10

A exportação não se restringe a produtos e serviços; exportamos agora a nossa imagem

Os resultados da balança comercial desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva impressionam. O Brasil exporta mais em volume e em variedade. Mesmo com o reaquecimento interno da economia, as empresas brasileiras, de todos os portes, continuam atentas às oportunidades que emergem no mercado internacional. Tomam consciência que optar por esse caminho não é apenas uma alternativa momentânea para enfrentar a instabilidade econômica. É também uma forma de se preparar para a disputa do mercado interno. A cultura exportadora definitivamente se incorpora ao Brasil. Para atender às exigências do mercado externo é preciso investir em tecnologia e mão-de-obra, melhorar a qualidade do produto ou serviço, cumprir compromissos, buscar eficácia gerencial e, consequentemente, ter preços mais competitivos. Ao atingir níveis de eficiência que carimbem o passaporte com visto de entrada e conquista de um nicho no mercado internacional, a empresa internaliza tais processos e garante, inexoravelmente, maior espaço na economia nacional. Adquire, inclusive, poder de influência na política e nas ações do setor ao qual está inserida. Esse boom de exportações, cujo crescimento é de 35% com um saldo comercial beirando os US$ 26 bilhões, - e que chegou a ser visto como transitório por alguns céticos da capacidade do empresário brasileiro em ousar, e da aptidão do governo de buscar novos e promissores caminhos - não pára por aqui. O planejamento estratégico - e as ações que decorrem do objetivo de encontrar novos compradores para produtos brasileiros e intensificar a promoção comercial - é um caminho sem volta. Os recursos que surgem para auxiliar os Estados a investirem na sua vocação produtiva, assim como o apoio aos empresários para identificarem e ocuparem nichos de mercado no exterior, estão se sofisticando, e em nada perdem para o que é praticado nos países desenvolvidos. A contratação de consultorias internacionais para prospecção de mercado e o trabalho de inteligência comercial desenvolvido pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil), em parceria com a Secretaria de Comércio Exterior, são instrumentos efetivos e já amplamente utilizados pelo mercado. Jóias, confecções, cosméticos e calçados brasileiros estiveram nas prateleiras da rede Selfridges e encantaram os ingleses da alta classe. Já os alimentos e bebidas foram apreciados por franceses de todas as classes que compram na cadeia de supermercados Casino. Ainda este ano, 150 produtos brasileiros estarão na China, durante uma ação promocional específica com a rede Shangai Sugar, Cigarrete & Wine, que poderá servir de ponte para outros supermercados instalados naquele país. Há ainda uma parceria com a rede Carrefour em 18 países, mais de 9.300 lojas e uma clientela invejável: 2 bilhões de clientes, que degustarão e comprarão frutas brasileiras. Já em 2005 o Brasil ocupará espaço na Rinascente, na Itália, na Galeria Lafayette, na França, no El Corte Inglês, na Espanha, e no Palácio del Hierro, no México. Tais promoções têm despertado a atenção do mundo e embora sejam compartilhadas com iniciativas similares em outros idiomas, nós temos uma vantagem: uma admirável capacidade de inovar, criar e driblar crises e obstáculos que, obviamente, crescerão na medida em que passamos a exportar de forma mais agressiva. Estamos vendendo mais para países de todos continentes. Seja Libéria, Emirados Árabes, Polônia, Tunísia, Filipinas, Grécia, Irlanda, África do Sul ou Costa Rica. E estamos diversificando. Há um crescimento notável nas vendas de produtos com valor agregado, como embarcações, itens de confeitaria, bombas e compressores, cachaça, joalheria, dentifrício, motores elétricos, calçados etc.

Mesmo com a retomada interna, as empresas continuam atentas às novas oportunidades no mercado internacional

E nossa exportação, é fato, não mais se restringe a produtos e serviços. Estamos também exportando a nossa imagem. De forma equilibrada, sem desprezar, todavia, as razões pelas quais nos tornamos conhecidos: o carnaval, o futebol e a beleza natural. Queremos que a Marca Brasil alie o belo à praticidade, a qualidade ao preço, a tecnologia ao detalhe. Os 25 produtos brasileiros premiados no IF Design Award 2004, na Alemanha, o "Oscar" do design internacional, colocaram o Brasil entre os melhores do mundo. Atenderam às exigências da globalização, respeitando, contudo, características brasileiras. Tinham cores, formatos e foram elaborados com materiais que imprimiram um toque regional. Tais detalhes são fundamentais no comércio internacional e agregam valor ao que produzimos, além de fortalecer a posição do Brasil no mercado, pois dificultam a troca de fornecedor. A Apex-Brasil, reestruturada neste governo, trabalha para atender à necessidade de inserir o país nesse novo mundo. Seja por meio do apoio à participação de produtos brasileiros no IF Design Award, seja coordenando ações de promoção comercial em mercados tradicionais e também naqueles que começam a descobrir o Brasil. Em maio do ano passado organizamos uma missão à Rússia liderada pelo ministro Luiz Fernando Furlan, participante ativo das ações promocionais e estratégicas, com pouco mais de 40 empresas. Foram realizados contatos com 311 empresários russos e fechados negócios de US$ 30 milhões. Não foi pouco, considerando que na Rússia sabe-se quase nada sobre o Brasil industrial e produtivo, e muito sobre o nosso futebol. Mas foi nessa ocasião que jóias, sapatos, cosméticos e confecções brasileiros começaram a ser descobertos por lá. Empresários russos souberam que o Brasil é também um jogador importante na arena internacional da moda. Resultado, empresários desses setores retornam ao país, dessa vez para um evento direcionado que pode garantir ao Brasil a ocupação de um espaço importante, numa economia em plena expansão. Para promover a semana de moda brasileira, os russos já estão convivendo com uma campanha de comunicação, onde o Brasil aparece em outdoors, revistas, jornais, internet, catálogos e outras mídias. Buscar novos mercados como o russo, o indiano e o africano, e consolidar aqueles tradicionais como Europa e Estados Unidos, estão nos planos da Apex-Brasil, cujas atividades para o segundo semestre e para 2005 incluem desde a prospecção dos mercados do Leste Europeu e Sudeste Asiático, até ações promocionais em países latinos e escandinavos.