Título: Reconquistar os passageiros é mais um desafio
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Empresas & Serviços, p. B-3

A Vasp garante não ter problemas para pagar de forma diária e antecipada, pelo tempo que for necessário, as taxas aeroportuárias à Infraero. Mas o vice-presidente comercial da companhia, Rodolfo Canhedo, acredita em um acordo "nos próximos dias" para a dívida de R$ 11 milhões e busca agora superar um dos maiores desafios que a empresa terá pela frente: recuperar a confiança dos passageiros, abalada pela mais grave crise na sua história. A "propaganda negativa da mídia" levou à queda das taxas de ocupação dos vôos da companhia, afirmou Canhedo ao Valor. Antes de detonada a crise atual, na penúltima semana de setembro, o índice era de 65%. Em outubro, informa ele, a taxa de ocupação caiu para algo entre 49% e 50%. Ou seja, além de ter reduzido sua malha aérea, a Vasp consegue preencher atualmente apenas metade - ou pouco menos do que isso - dos assentos que oferece em cada um dos vôos. "Estamos readequando a empresa, mas a mídia negativa tem nos prejudicado muito", reconhece Canhedo. "Enquanto a Vasp pagar em dia à Infraero, os aviões continuarão decolando normalmente. E vamos pagar em dia, como fizemos ontem, estamos fazendo hoje e faremos pelo tempo que for necessário. Ninguém mais do que nós tem a preocupação de passar tranqüilidade aos agentes de viagem." Canhedo diz que a imprensa tem entendido mal o cancelamento de vôos da empresa. Segundo ele, os aviões que não decolaram nos últimos dias obedecem à reprogramação feita pela companhia com bastante antecedência. Canhedo assegura que os passageiros não estão sendo prejudicados atualmente, apesar de os painéis dos grandes aeroportos continuarem apontando o cancelamento de vôos. Nas agências de viagens com participação de mercado mais expressiva, a emissão de bilhetes da Vasp caiu. É o caso da Interline, uma das três maiores de Brasília e entre as 15 mais importantes do país. Nas últimas semanas, desde a deflagração da crise, a venda de passagens da Vasp caiu entre 20% e 30%, segundo o diretor comercial, André Moura. Na avaliação de Moura, a queda mais recente nas vendas de bilhetes não representa um grande problema, pois apenas compensa o crescimento de até 30% que havia sido registrado nos dois meses anteriores. Esse aumento ocorrera por causa dos descontos que a Vasp tem concedido. Na verdade, essa é uma das duas características da política comercial da companhia aérea, que atualmente ocupa a quarta colocação no setor. A empresa tem se voltado para o perfil "low cost". Na Interline, os bilhetes da Vasp saem por um preço 25% inferior, pelo menos, aos oferecidos pela Varig e pela TAM. Na comparação com a Gol, os preços ficam entre 10% e 15% mais baixos, dependendo do destino. A segunda característica é o pagamento de uma comissão de quase 13%, para os agentes de viagem, sobre o valor da passagem. As outras companhias trabalham com comissão de 9%. Isto é, há um forte estímulo para que os agentes "empurrem" passagens da Vasp. "Os clientes não enfrentaram problemas no feriado", diz Moura. (DR)