Título: FHC rouba a cena dos governadores no ato inaugural do PSDB rumo a 2006
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Política, p. A6

A pretexto de comemorar o quinto aniversário da Lei de Responsabilidade Fiscal, o PSDB comandou ontem o primeiro grande evento da oposição em direção à campanha presidencial. "Não é hora da saudade, mas de comichão do futuro, que já começamos a sentir", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem coube fazer os mais duros ataques ao governo Lula. "O futuro está aqui presente, alguém aqui será o nosso candidato à Presidência da República e nós vamos apoiar com energia", afirmou FHC. O ex-presidente não descartou inteiramente a hipótese de ser ele esse candidato. "Eu não sou candidato. Poder eu até posso, mas não vou". FHC citou os nomes dos governadores Geraldo Alckmin (SP), Aécio Neves (MG) e Marconi Perillo (GO) como opções tucanas. "O Serra nem falei porque ele está plantado na prefeitura", acrescentou, com um sorriso irônico. A impressão dos tucanos e dos outros políticos presentes - o PFL compareceu em peso e havia representantes do PMDB, PV e PP - foi outra: FHC não abre mão de ser o grande eleitor tucano ou até mesmo de vir a ser o candidato. Uma pesquisa encomendada pelos tucanos aponta o governador Geraldo Alckmin como uma boa opção. O fato de não ser conhecido nacionalmente ajudaria mais que atrapalharia, pois é um nome sem rejeição que, bem trabalhado, só tenderia a crescer. FHC aparece atrás de Alckmin e Serra. Aécio teria as mesmas características de Alckmin, mas é pouco provável que o candidato do PSDB saia de fora de São Paulo. Outras duas pesquisas foram encomendadas pelos tucanos - uma qualitativa e outra quantitativa - para avaliar o partido e o potencial de seus nomes. O PSDB não quer repetir o erro de 2002, quando a candidatura Serra dividiu o partido. Mas a gravação do programa de tevê do partido, que será exibido a partir deste mês, demonstra que a indicação do candidato não será resolvida sem disputa. Aécio, por exemplo, sentiu que Alckmin poderia ser privilegiado no programa e reagiu, o que levou o senador Tasso Jereissati (CE) a São Paulo para uma conversa com o governador. Está mais ou menos acertado que Aécio e Alckmin terão mais destaque que os demais no programa de TV. Na comemoração dos cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, Alckmin, Aécio e Serra (Perillo não compareceu) evitaram críticas mais contundentes ao governo, papel que coube a FHC. Fernando Henrique, por exemplo, disse que ficou "chocado" ao ler a lista de votação da LRF e constatar que nada menos do que cinco ministros do presidente Lula haviam votado contra o projeto: foram eles Antonio Palocci (Fazenda), Waldir Pires (Controladoria Geral da União), Ricardo Berzoini (Traballho), Marina Silva (Meio Ambiente), Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), Nilmário Miranda (Direitos Humanos), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Agnelo Queiróz (Esportes) e Aldo Rebelo (Coordenação Política). "Qual a autoridade que eles têm para cobrar o que aconteceu no meu governo?", questionou, antes de fazer uma ressalva: o atual governo teria aprendido a importância da responsabilidade fiscal. Fugindo ao tema do encontro, FHC enveredou por outros temas. Para o ex-presidente, "vencer as altas taxas de juros" será o "grande desafio" do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, apesar do ambiente internacional favorável, em dia de céu azul", na América Latina o Brasil cresce abaixo da média e o governo vive encontrando argumento para aumentar os juros."Alguma coisa está complicada. Eu não sei a resposta, mas quem vier a assumir em 2006 terá de encontrar essa resposta". disse. "É preciso mudar o moto perpétuo do aumento dos juros, que está efetivamente sufocando a economia". Antes de discursar, FHC já criticara a comemoração do governo sobre o aumento do emprego e a política de Lula para o salário mínimo. "Ele [Lula] leu mal os números" sobre o emprego. Sobre o mínimo: "Ele prometeu muito e nesses três anos de salário-mínimo ele cresceu 11% e eu em oito anos cresci 44%. Para alguém que vem da luta sindical e me criticou incessantemente porque não havia melhor salário-mínimo, ficou feio. Eu espero que ele recupere, porque está muito feio". Serra disse que o governo confunde LRF com geração de superávit primário e que não se deve descartar os gastos com juros dessa conta. Afirmou que já retomou o controle das contas de São Paulo. "estamos entrando em outra etapa, positiva". Aécio contou como acabou com o déficit de R$ 200 milhões ao mês, em Minas. Para Alckmin, o equilíbrio das contas é possível "não é com choque de gestão, é com perseverança, vontade política, liderança". Para o governador, "não há investimento privado onde não há eficiência".