Título: Governo é 'gordo, pesado e perdulário', diz Tasso
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Política, p. A6

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) fez ontem fortes críticas à gestão do presidente Lula. Em discurso proferido na tribuna do Senado, o tucano disse que o governo é "gordo, pesado e perdulário", incompetente, lento, ineficiente e sem rumo. Tasso não poupou ninguém: nem o ministro Antonio Palocci, com quem simpatizava, nem Ciro Gomes, seu amigo e aliado. Para o senador, Lula está distante da realidade e é um comandante que não sabe "para onde está nos levando". Por causa da reeleição, acusou, está invertendo as prioridades. "Sempre me contive em comentar seus improvisos, admitindo-os como arroubos de espontaneidade e exercício de proselitismo de massas, mas definitivamente tais deslizes não fazem bem ao país", disse ele, referindo-se à crítica de Lula aos que não exigem dos bancos juros menores. "Estas últimas declarações revelam um governante totalmente distante da realidade, talvez, impregnado por áulicos que o fazem acreditar no perigosíssimo axioma de que o governo é bom e o povo é que é ruim." Tasso sustentou que, dado o fato de que em 2004 a economia mundial viveu a sua maior expansão dos últimos 15 anos, a expansão do PIB em 5,2% no ano passado foi "medíocre". Ficou abaixo da média dos países emergentes (6%) e mesmo dos latino-americanos (5,9%). Para 2005, o FMI prevê crescimento de 3,7% do Brasil, abaixo novamente da média esperada para os emergentes (6,3%) e mesmo para o mundo (4,1%). O governo, diz Tasso, está perdendo a oportunidade de colocar o país na rota do crescimento sustentado por não enxergar que a maré mundial pode mudar. "Era de se esperar que o novo governo aprendesse a lição de que governar prometendo o paraíso, sem compromisso com a realidade, poderia, ao contrário, levar às portas do inferno", comentou. "Estamos, na verdade, navegando sem rumo. É triste constatar, a cada dia, que este governo nunca teve um projeto para o país, além daquele de alcançar o poder." Tasso elogiou o aumento do superávit primário para 4,25% do PIB, mas disse que é preocupante alcançar a meta por meio do aumento da carga tributária. Nada escapou ao escrutínio do senador. Para ele, é "um absurdo sem par" a concessão de microcrédito sob a ótica do consumo e não da produção, como ocorre no resto do mundo. Ele chamou a atenção também para a "fortíssima" redução dos investimentos públicos - 48% em proporção do PIB - nesta gestão. "Reduzir investimento para elevar o superávit primário compromete o crescimento do PIB, tendo, no médio prazo, impacto contraditório sobre a relação dívida/PIB", advertiu. "O governo, em vez de ter a humildade de reconhecer que é gordo, pesado e perdulário, sendo portanto responsável pelo baixo nível de investimento e pela retomada inflacionária, prefere punir as empresas e os consumidores, aumentando os juros de forma excessiva para compensar o nítido descontrole dos gastos." Tasso criticou todas as áreas - a social ("os programas sociais são um fracasso"; "o governo gasta muito e mal"), a saúde ("padece à míngua de recursos e má gestão"), a infra-estrutura ("está destruída"), a educação, a política externa ("marca muito mais pelo espalhafato e pelas contradições do que por conquistas efetivas"). Mesmo a integração regional, comandada por Ciro Gomes, não se livrou dos ataques. "O Nordeste está mais abandonado do que nunca."