Título: Democrata liberal atrai trabalhistas frustrados
Autor: Vitor Paolozzi
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Internacional, p. A13

A grande novidade que as urnas britânicas podem apresentar hoje é o crescimento do partido dos Democratas Liberais. Liderados por Charles Kennedy, os democratas liberais esperam ir das atuais 52 vagas no Parlamento para cerca de 70. Alguns chegam até a sonhar em ultrapassar os conservadores e se tornar o principal partido de oposição. A hipótese é remota, mas os democratas liberais vêm em linha ascendente nos últimos pleitos e caminham para cristalizar um quadro político no país dominado por três forças - na contra-mão da tendência de bipartidarismo, dominante principalmente nos países que adotam o voto distrital. De esquerda, o partido está aumentando sua base atraindo os opositores da Guerra do Iraque e o grande número de trabalhistas frustrados com a guinada dos trabalhistas para o centro conduzida por Blair. O maior exemplo desse descontentamento aconteceu na semana passada, quando o trabalhista Brian Sedgemore, que serviu ao partido no Parlamento por mais de 25 anos, bandeou-se para os Democratas Liberais. Com grande estardalhaço, Sedgemore anunciou que estava "renunciando a Tony Blair, o diabo, e ao novo trabalhismo e seus produtos". Em artigo publicado no jornal "The Independent", Sedgemore criticou o primeiro-ministro por ter levado o país à guerra, revelou que um pequeno grupo de parlamentares planeja abandonar o partido após a eleição e lançou um apelo: "Conclamo todos a dar um nariz sangrento a Blair nas urnas". A mais forte demonstração de que os Democratas Liberais estão crescendo foi dada pelo próprio premiê, que nos últimos dias de campanha bateu insistentemente na tecla do "voto útil": "Existem três maneiras de se conseguir um Parlamento dominado pelos conservadores. A primeira é votando neles. A segunda é ficando em casa no dia da eleição. E a terceira é votando nos Democratas Liberais", disse Blair em comício na segunda-feira.