Título: Fura 'bolha dos metais', mas juro ainda sobe
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2004, Finanças, p. C-2

As pressões em favor de um juro cada vez mais alto funcionam a plena carga no pregão de DI futuro da BM&F desde que o IBGE divulgou, na segunda-feira, um imprevisto crescimento de 1,1% na produção física industrial de agosto comparativamente a julho. Sete índices de inflação relativos a setembro aquém das expectativas do mercado, divulgados nas duas últimas semanas, não foram suficientes para convencer o pregão a rever a sua aposta de que a Selic subiria 0,25 ponto na reunião do Copom marcada para a próxima quarta-feira. Mas um dado de produção industrial já foi mais do que o bastante para que o mesmo pregão já considerasse natural uma alta de 0,50 ponto. É caso para tanto? O informe do IBGE foi analisado muito superficial e convenientemente pelo mercado. O aumento na margem da produção não está disseminado. De 23 atividades industriais, 12 cresceram de um mês para o outro. A elevação de agosto se concentrou em bens de capital (2,3% sobre julho) e em bens duráveis (2,2%), sobretudo veículos, a maior parte dos quais destinados à exportação. A demanda por bens de capital demonstra o interesse das empresas em fazer novos investimentos produtivos, ampliando a oferta de bens finais -- um alívio antiinflacionário da capacidade instalada. Nenhuma atenção foi dada à informação, divulgada concomitantemente, de que a renda média real do trabalhador caiu 1,4% em agosto sobre julho. Resumindo tudo: só com muita vontade de subir o juro é que se pode depreender dos dados o afloramento de uma preocupante inflação de demanda capaz de requerer do Copom uma aceleração do seu "ajuste moderado" da Selic. Mas vontade é o que não falta ao DI futuro: os contratos mais líquidos subiram com vigor ontem, ignorando a queda das commodities metálicas.

O vencimento mais negociado, referente à virada do primeiro trimestre de 2005, avançou de 17,14% para 17,20%. O contrato para julho subiu de 17,32% para 17,41%. Esse vencimento é o que fornece o parâmetro para as propostas de compra feitas pelos bancos da LTN mais negociada. O Tesouro vendeu ontem 4,5 milhões desses papéis por juro de 17,77%, ante 17,69% na semana passada.

Mas 'bolha do petróleo' continua inchando

O petróleo forneceu de novo a razão fundamental para um dia negativo nos demais segmentos do mercado. O barril fechou cotado a US$ 53,64, em alta de 2,15%. Mas cada um teve motivo particular extra para exacerbar a tendência pessimista. O vencimento de índice futuro na BM&F ajudou a afundar o mercado à vista da Bovespa, num dia definido por operadores como de estouro da "bolha dos metais". Ações de mineradoras e siderúrgicas desabaram pesadamente no mundo todo. Falta furar agora a do petróleo, desinflando outro fantasma das preocupações inflacionárias do mercado local. Investidores estrangeiros, auxiliados por "vendidos" em índice, optaram por não rolar posições e a Bolsa caiu 2,77%. A zeragem de posições fez o volume de negócios saltar para R$ 3,27 bilhões. No mercado cambial, a formação da "ptax" (taxa oficial de câmbio) para liquidação, hoje, de dívida pública indexada ao dólar no valor de US$ 378 milhões empurrou a moeda para R$ 2,84, alta de 0,70%. Os investidores de Wall Street realizaram os lucros recentes obtidos com a escalada do C-Bond. E o papel, às vésperas do pagamento de juros pelo governo brasileiro, caiu 0,39%, cotado a US$ 0,9998. O risco-país subiu 4,14%, para 453 pontos-base.