Título: Florianópolis entra no filão dos negócios do golfe
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Empresas &, p. B6

Animado com o aprendizado do golfe, o dono do resort Costão do Santinho (SC), Fernando Marcondes de Mattos, pretende inaugurar até julho deste ano o primeiro campo de golfe de Florianópolis. O empresário comprou uma área próxima ao resort para construir um campo e um condomínio de casas e apartamentos. Mesmo não sendo um profundo conhecedor desse esporte de elite, Mattos tem convicção da viabilidade econômica do golfe no Brasil. "Estou há 15 anos pensando em fazer um campo de golfe. Sempre achei uma necessidade do meu resort. Não fiz antes porque não achava viável. Hoje, não tenho dúvida alguma. Acho que o golfe vai ocupar espaço na mídia e ficará no Brasil atrás somente do futebol", diz o empresário. O Costão Golf vai entrar para a lista de 11 novos campos de golfe que estão sendo construídos no país como o Araguaia Golf Club (MT) e a Fazenda da Grama (SP). Esses novos projetos pegam carona no crescimento de cerca de 10% ao ano no número de praticantes do esporte, que hoje já chegam a 120 mil pessoas no Brasil, de acordo com a Confederação Brasileira de Golfe. A intenção é não só abocanhar os brasileiros recém-chegados ao esporte, mas concorrer com resorts internacionais que já oferecem a opção para seletos turistas abonados. O empreendimento catarinense terá 18 buracos, em um terreno total de 567 mil metros quadrados no norte da ilha de Florianópolis. Serão investidos R$ 28 milhões na nova estrutura. Cada lote para construção de casas ajudará a financiar a construção. Mattos colocou à venda lotes de, em média, 900 metros quadrados por R$ 600 mil. Pretende cobrar R$ 30 mil por um título e acha que em cinco anos terá faturado US$ 10 milhões, cobrindo o investimento feito. Essa áreas será ligada por um bondinho aéreo ao resort Costão do Santinho. "Hoje eu poderia dizer que um resort que não tem um campo de golfe vai perder 50% da clientela", diz Mattos. Embora o campo hoje seja considerado pelo empresário como essencial para os negócios, a estrutura é tida pelo Ministério Público Federal como um grande problema. A procuradora da república Analúcia Hartmann ajuizou uma ação civil pública de paralisação das obras, que ocorrem em cima de um importante aqüífero da cidade, o Aqüífero Ingleses, onde a Companhia de Abastecimento de Santa Catarina (Casan) capta parte da água para a população. A discussão está em tramitação na Justiça e, por enquanto, Marcondes tem conseguido levar a obra adiante. "O campo de golfe não vai poluir o lençol freático. Acha que algum país do mundo desenvolvido permitiria a construção de campo de golfe se o esporte poluísse?", questiona o empresário. Diz que desde o desenho do campo ao tipo de grama e controle de pragas, foram pensados para não prejudicar o meio ambiente. Analúcia afirma que o campo resultará num acréscimo populacional de cerca de 1,5 mil habitantes na região, sem contar empregados, animais domésticos e convidados ocasionais. Ela também questiona a construção de um teleférico ligando os dois empreendimentos de Mattos, já que a ligação se dará sobre dunas de areia. Segundo ela, as dunas ajudam a preservar o Aqüífero Ingleses. Mattos diz achar que o caso se resolverá. Ele tem distribuído folhetos explicativos sobre questões ambientais que possam envolver o campo. Ex-secretário da Fazenda em 1992, amigo do atual governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), ele também tem um bom trânsito com o prefeito da capital Dário Berger (PSDB). Recentemente, segundo o MPF, a Câmara de Vereadores mudou o plano diretor dos balneários, medida que seria fundamental para regularizar a obra, devido a pressões políticas e econômicas. Mattos diz que a obra foi aprovada pelos órgãos públicos competentes como a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), depois de 18 meses de longas tratativas. Nos últimos meses, o empresário tem acelerado as obras e a divulgação do empreendimento. O Costão contratou a consultoria dos argentinos Angel Reartes e Ricardo Aguero para realizar a obra. Eles vão assessorar o empresário também na contratação de professores para aulas já no meio deste ano. O próprio empreendedor foi a Punta del Leste, no Club Del Lago, e à Flórida, visitar o Boca Ratón para conhecer de perto alguns campos de golfe. Além de campo e condomínio de luxo, será criada também uma grife de roupas e acessórios com o nome do Costão, direcionada ao público-alvo, que na visão de Mattos são pessoas de alto poder aquisitivo do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Argentina.