Título: Autopeças revisam previsão para o ano
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Empresas &, p. B9

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, apresentou ontem uma previsão de faturamento e exportação do setor para o ano com crescimentos que podem não se confirmar porque, segundo ele, os dados foram coletados com as empresas antes de os presidentes da General Motors, Fiat e Volkswagen anunciarem queda no ritmo das exportações por conta do dólar. Os prognósticos das montadoras, segundo Butori, são o sinal amarelo da tendência de esfriamento no ritmo de crescimento no setor a partir do segundo semestre. O dirigente do Sindipeças sugeriu ontem que o Banco Central compre dólares para reverter a queda da moeda estrangeira. Na previsão feita antes dos alertas dos seus principais clientes, a indústria de autopeças projetou um faturamento recorde na história do setor no Brasil, de US$ 18,6 bilhões, o que representa crescimento de 12,72% na comparação com 2003. Foto: Magdalena Gutierrez/Valor

Butori, do Sindipeças: "O Lula está desinformado quando diz que a gente tem que se mexer e ser competitivo"

Boa parte dessa expansão vem não apenas da demanda nas montadoras como também do salto que as exportações da indústria de autopeças deu no último ano. As vendas externas das 500 empresas filiadas ao Sindipeças passaram de US$ 4,77 bilhões em 2003 para US$ 6,06 bilhões no ano passado. A expectativa era chegar a US$ 6,70 bilhões este ano. Butori disse que, a exemplo das montadoras, os fabricantes de componentes também poderão reduzir os volumes de vendas ao exterior neste ano por conta da valorização do real. "Temos um muro na nossa frente e vamos bater se não frearmos o carro", destacou. Por conseqüência, a previsão de faturamento recorde do setor que hoje emprega 194 mil trabalhadores também será afetada. Butori disse ainda que o setor começa a sofrer os efeitos da sucessão dos aumentos das taxas de juros. E, numa referência ao conselho dado recentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse: "Nós levantamos o bumbum da cadeira todos os dias, mas não encontramos juros baixos". O dirigente também rebateu as declarações de Lula, que pediu aos empresários para serem mais competitivos. "Lula está desinformado quando diz que a gente tem que se mexer e ser competitivo", disse. Ele citou o exemplo da China que diminuiu as importações de peças do Brasil ao mesmo tempo em que aumentou as exportações desse produto para o nosso mercado. De janeiro a março, as exportações de componentes brasileiros para a China caíram 25,8%, com US$ 45,8 milhões. No mesmo período, as exportações de autopeças chinesas para o mercado brasileiro cresceram 88,8%, com US$ 29,3 milhões. "Quando vamos nas feiras de autopeças do mundo percebemos claramente que conversa de chinês não tem custo, só preço. Isso porque eles estão comprando mercado", destacou. Segundo o Sindipeças, em 10 anos, a participação da matéria-prima no custo das peças no Brasil aumentou de 40,89% para 60,45%. No mesmo período, a participação da mão-de-obra caiu de 28,81% para 18,43%. Nessa fase de crescimento, a indústria de autopeças reduziu a sua capacidade ociosa, de 26% há dois anos para 13% e planejou elevar o total de investimentos de US$ 600 milhões em 2004 para US$ 1 bilhão, neste ano.