Título: Os advogados já previam desfecho
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Finanças, p. C1

Sergio Bermudes, advogado que representa Edemar Cid Ferreira, e seu sócio Ricardo Tepedino, disseram que a decisão do Banco Central (BC), de liquidar a instituição, já era esperada e não trouxe surpresas. Segundo Bermudes, antes de a liquidação ser anunciada, ele se reuniu com Edemar e os dois comentaram ter "ouvido rumores" de que ela seria anunciada a qualquer momento. "Vamos examinar o ato da liquidação, se houver alguma irregularidade vamos tomar providências", disse Bermudes, e acrescentou que vai "acompanhar" a liquidação, "cooperando na medida do possível". O advogado Jairo Saddi, que representa credores de cerca de US$ 150 milhões no Banco Santos, destaca que a decisão do BC "é tecnicamente correta", pois o banco não tinha chances de ser recuperado. Saddi destacou porém que o efeito para seus clientes vai depender dos próximos passos da liquidação. Na opinião deste advogado, a pior solução seria a decretação imediata da falência, o que afastaria as chances de recebimento dos créditos. Ainda ontem, os credores do banco estavam se organizando para encaminhar uma carta ao Banco Central pedindo que a intervenção no Banco Santos fosse prorrogada até o dia 9 de junho, quando entra em vigor a nova Lei de Falências. O escritório Pinheiro Neto Advogados, a pedido dos credores, produziu um memorando de nove páginas analisando esta possibilidade e concluindo por sua viabilidade. "Estávamos esperando por esse desdobramento", afirmou Carlos Eduardo de Freitas, sócio-diretor da Valora, consultoria contratada por Edemar para elaborar uma proposta de recuperação do Banco Santos. O plano, anunciado no final de dezembro, previa colocar o banco sob Regime de Administração Temporária (Raet), para que voltasse a funcionar, e posteriormente uma capitalização da instituição, que então seria colocada sob nova administração. Até dois meses atrás, a Valora e os advogados de Edemar sustentavam que a adesão à proposta havia atingido 72% dos credores. Freitas disse que percebeu que não haveria outra saída para o Santos quando os credores não apareceram para uma reunião, marcada para dia 12 de abril em São Paulo. Segundo o sócio-diretor da Valora, até essa reunião, a situação dos credores de debêntures - emitidas por empresas não financeiras controladas por Edemar e adquiridas em transações envolvendo empréstimos com o banco - era a parte mais complicada da negociação. O plano incluía converter os créditos em debêntures das empresas por papéis do "novo" banco (após a reestruturação), com deságio de 70%. Os credores externos do Banco Santos foram surpreendidos pela notícia de liquidação extrajudicial do banco e vão sentar com advogados, credores internos e o BC para procurar uma saída para receber seus recursos, segundo Luís Soares, sócio da Eurovest Securities, que criou um comitê de credores internacionais. "Estamos aliados com os credores internos", disse. No total, o banco tem US$ 62,5 milhões em títulos nas mãos dos investidores internacionais, dos quais US$ 25 milhões venceram em 28 de abril e não foram pagos. O pagamento de cupom (juros nominais) também está atrasado. (Colaborou Luciana Monteiro)