Título: Crescimento pode reduzir miseráveis para 25,3%
Autor: Ana Cláudia Landi
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Brasil, p. A-2

A recuperação da economia em 2004 deve reverter o crescimento da miséria registrado em 2003. Pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS-FGV) mostra que a expansão de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) reduziria a proporção de miseráveis de 27,26% (em 2003) para 25,3%. Se confirmados, esses seriam os menores índices de miséria já registrados desde o início do levantamento, em 1992. Responsável pelo trabalho, o economista Marcelo Neri lembra ainda que, paradoxalmente, a desigualdade social pode ser uma aliada no combate à pobreza. Isso porque, se por um lado, a desigualdade é o principal problema do país, ela também abre espaço para uma gama maior de ações contra a miséria. "Alta desigualdade significa que a miséria pode ser reduzida com transferência de renda, algo impossível na Índia, por exemplo, país muito pobre, mas mais igualitário", observa Neri. De acordo com o levantamento da FGV, a parcela da população que não ganha o suficiente para comer surpreendeu, passando de 26,23% em 2002 para 27,26% em 2003. Isso significa que 47,4 milhões de brasileiros não têm dinheiro para adquirir uma cesta básica mensal que garanta o consumo diário de 2.888 calorias, nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Este é o primeiro estudo a calcular a proporção de miseráveis com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios (Pnad-2003), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neri estima que, em 2003, a quantia mínima necessária para suprir as necessidades alimentares dos brasileiros era de R$ 108 mensais por habitante. Em 2002, esse valor era de R$ 93. Os dados mostram que a miséria cresceu fortemente nas regiões metropolitanas (de 16,6% para 19,14% de um ano para outro), mas caiu no campo (de 51,4% para 51%).