Título: Histórico indica espaço para mais queda
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Finanças, p. C2

Apesar das reclamações dos empresários e da preocupação dos analistas, a cotação do dólar ainda tem espaço para cair a julgar pelos cálculos feitos pela área de economia da administradora de ativos Votorantim Asset Management (VAM). "O espaço é pouco mas o dólar pode cair mais, mantidas as atuais condições estruturais e se o Banco Central não voltar a comprar", disse Fernando Fix, da área de pesquisa econômica da VAM. Fix avaliou o nível do câmbio real, descontando a inflação americana e levando em conta dois índices de preços brasileiros, um que capta os preços na ponta do varejo (IPCA) e outro focado nos preços no atacado (IPA). Considerando tanto o IPCA quanto o IPA, o dólar já esteve mais baixo do que o patamar de ontem no mercado em dois momento. Um deles foi no início do Plano Real e outro foi no Plano Collor. O estudo de Fix lembra ainda que, descontada a queda global do dólar depois de 2002, a cotação real seria de R$ 2,85. O economista disse que um dos fatores estruturais que derrubam o dólar é o crescente saldo da balança comercial. Recorrendo aos dados de fechamento de câmbio ontem divulgados, Fix lembrou que o saldo do câmbio comercial de cerca de US$ 3,5 bilhões mais do que compensou a saída de US$ 3 bilhões pelo câmbio financeiro. Somente a Bovespa perdeu R$ 1,9 bilhão. "Mesmo em um mês de forte saída financeira, o bom resultado do comércio externo inundou o mercado", disse Fix. Para ele, o BC está retardando a volta às compras por causa do impacto positivo da queda do dólar na inflação. "O câmbio vem ajudando a segurar a inflação. É só olhar o comportamento dos produtos tradables." Mesmo assim, acrescentou, a inflação deve ser alta, ao redor de 6%. Fix calcula que, não fosse a ajuda do câmbio, ela superaria 7%, ultrapassando o teto da meta para este ano. O diretor da VAM, Paulo Geraldo Oliveira Filho, lembrou que o governo também deve estar ponderando o custo fiscal da compra de dólar, representado pela diferença entre o juro do mercado interno e ganho com a aplicação das reservas. O Votorantim trabalha com a perspectiva de que o dólar voltará a subir, fechando a R$ 2,80 o ano.