Título: Dólar cai mais 1% e vai a R$ 2,467, menor valor desde maio de 2002
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Finanças, p. C2

Como já era esperado, o dólar voltou a cair ontem, após a decisão do Banco Central de não comprar dólar no mercado futuro novamente esta semana. No fechamento, a taxa foi a R$ 2,4670, o menor valor nominal da moeda americana desde 8 de maio de 2002. No mês, a queda soma 2,45% e no ano, 7,05%. Os especialistas ouvidos pelo Valor acreditam que, sem intervenções da autoridade monetária, a moeda americana vai buscar os R$ 2,40 ou até os R$ 2,30. No mercado internacional, o dólar perdeu força junto às principais moedas, inclusive euro e iene, com a perspectiva de que o Fed, banco central dos Estados Unidos, vai manter o ritmo moderado de alta de juros. A aversão a risco caiu e os investidores saíram em busca de investimentos mais rentáveis e com juros maiores, como os ativos brasileiros. Especialista do mercado que preferiu não se identificar defendeu a política do BC, de deixar o dólar cair. Para ele, o principal neste momento é derrubar a inflação e terminar o processo de alta nos juros. Esse diretor de banco vê uma ansiedade dos integrantes do BC e do governo federal em começar a cortar juros, para permitir um crescimento econômico maior já em 2006. Os números do mercado de câmbio divulgados ontem pelo BC ajudaram a trazer ainda mais calmaria aos investidores vendidos em dólar contra o real. Segundo o BC, o superávit no mercado primário de câmbio foi de US$ 531 milhões em abril, o menor valor registrado desde dezembro de 2004, quando o cenário de abundância de liquidez permitiu que o Banco Central voltasse a comprar dólares para reforçar as suas reservas internacionais. Nos quadro meses anteriores, o superávit médio no mercado de câmbio havia sido de US$ 2,654 bilhões, informou. O BC deixou de comprar dólares no mercado de câmbio a partir de 16 de março e também deixou de oferecer "swaps" reversos -uma forma de comprar dólar no mercado futuro- em 9 de março. De dezembro a março, a autoridade monetária adquiriu um total de US$ 12,8 bilhões. Em abril, o movimento de câmbio contratado para comércio se manteve relativamente vigoroso, mas houve alta nas saídas de dólares no segmento financeiro. O saldo do comércio exterior se manteve em US$ 3,597 bilhões, menor do que o de março (US$ 4,557 bilhões), mas em linha com o resultado de fevereiro (US$ 3,519 bilhões). A média diária do câmbio contratado para exportações, de US$ 442 milhões, ficou acima dos valores observados no primeiro quadrimestre (US$ 426 milhões). As saídas foram relativamente altas no segmento financeiro, que inclui fluxos de investimentos, empréstimos e pagamentos de rendas e serviços - o fluxo líquido ficou negativo em US$ 2,976 bilhões, maior valor observado desde julho de 2004. O mercado desconfia que grande parte do déficit no segmento financeiro se deveu a compras mais vigoras do Tesouro Nacional feitas por meio do Banco do Brasil em abril. O Tesouro pode comprar dólar no mercado à vista com seis meses de antecedência da data de pagamento de títulos da dívida externa e de empréstimos do Clube de Paris. Em outubro, vence US$ 1,332 bilhão e o Tesouro poderia ter comprado até esse valor no mês passado se assim quisesse. O interesse das empresas por renovar suas dívidas externas -que têm se mantido baixo desde 2004 - ficou ainda menor em virtude do aumento da volatilidade no mercado internacional. Os dados parciais até o dia 25 de abril indicavam uma taxa de rolagem de 42% para papéis e empréstimos diretos. O outro fator que pesou foi a alta concentração de pagamentos da dívida externa do setor privado: US$ 1,852 bilhão, entre principal e juros. Também houve remessas de lucros e dividendos. A partir de abril, com a unificação dos mercados de câmbio livre e flutuante, o fluxo de remessas pelas contas CC5 (de não-residentes) passou a ser feita pelo segmento financeiro. Com o BC ausente do mercado de câmbio, o superávit foi integralmente absorvido pelos bancos -que reduziram sua posição vendida em moeda estrangeira de US$ 3,076 bilhões para US$ 2,577 bilhões entre março e abril.