Título: Para JP Morgan, maior risco para o país está no exterior
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Finanças, p. C3

O principal risco para o mercado brasileiro hoje não vem da política econômica interna, mas dos investidores globais. A avaliação é de Anton Pil, responsável mundial pela área de renda fixa, moedas e commodities do JP Morgan, que esteve ontem em São Paulo para visitar clientes do banco. "Olhando os fundamentos do Brasil hoje, a maior preocupação não é o cenário doméstico, mas o apetite ao risco do investidor internacional" disse o executivo ao Valor. Os investidores locais, na avaliação de Pil, vão continuar investindo em papéis brasileiros. O mesmo não acontece com os investidores institucionais (como os fundos de pensão) no exterior, que não precisam manter os papéis brasileiros. No cenário global, o executivo classifica o desempenho econômico europeu como "desapontador" e destaca a possibilidade de reação das moedas asiáticas em relação ao dólar, seguindo uma possível valorização da moeda chinesa. Estudar as tendências da moeda brasileira, porém, não tem sido tarefa fácil para Pil. "É um pouco mais difícil analisar o real", disse. A razão é que, segundo ele, quando se olha as pessoas que investem na moeda brasileira, 80% é "hot money", ou seja, dinheiro de curto prazo atrás de ganhos altos. E os juros brasileiros, os mais altos do mundo, podem ficar ainda maiores este mês, avalia Pil. Ele prevê mais um aumento na Selic, de 0,25 ponto percentual, subindo a taxa para 19,75% ao ano. Com relação ao dólar, o executivo destaca que a tendência é de aumentar a participação de outras moedas nos portfólios dos investidores, que no passado eram em grande parte em dólar. "A cesta de consumo é cada vez mais global, com produtos da China, Europa e outros países." Pil, que é belga, mora em Nova York e esta semana está no Brasil para falar com clientes endinheirados do JP em três cidades: São Paulo, Porto Alegre e Rio. O banco não gosta de falar dos valores que essas pessoas investem, mas o mercado estima que para ser cliente do JP no Brasil é necessário um portfólio, de pelo menos, US$ 10 milhões. O banco é um dos três maiores do mundo na área "private" (para clientes de alta renda), com ativos de US$ 300 bilhões. Só na América Latina, são US$ 35 bilhões. Segundo Pil, esses clientes costumam ter relação de longo prazo com o banco, que chegam a durar mais de sete gerações. "Quando se tem essa quantidade de dinheiro, o investidor está preocupado com retornos absolutos, não com ganhos relativos", disse. Por isso, no caso da renda fixa, a tendência é aumentar cada vez mais nos portfólios os produtos desenhados especificamente para o cliente.