Título: Argentina faz sua 1ª emissão pós-calote
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, Finanças, p. C8

O governo argentino considerou um sucesso o primeira emissão voluntária de papéis de dívida feita após o default de dezembro de 2001, realizada ontem. Segundo o Ministério da Economia, a demanda pelos títulos públicos superou amplamente o volume previsto da emissão, de 1 bilhão de pesos argentinos (US$ 344 milhões). As ofertas totalizaram 2,165 bilhões para papéis com vencimento em 2014. A taxa oferecida é de 6,51% anual, mais a correção pelo índice inflacionário. O secretário de Finanças, Guillermo Nielsen, comemorou o resultado e disse que ele indica que a situação da Argentina nos mercados financeiros está "voltando à normalidade". A boa notícia para o governo veio na mesma semana em que dois indicadores mostram melhora nas perspectivas econômicas. A inflação de abril caiu para 0,5% (a taxa de março havia sido de 1,5%) e a arrecadação de impostos subiu 31,8% em relação a abril do ano passado. A emissão foi realizada para que o Tesouro tenha recursos para cancelar outros bônus que vencem nos próximos dias e estava prevista no orçamento deste ano. Caso a Argentina demore a negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país provavelmente terá de recorrer ao mercado outras vezes, já que o orçamento deste ano foi elaborado contando com um acordo. O ministro da Economia, Roberto Lavagna, ressaltou que a intenção do governo é emitir dívida apenas para rolar os vencimentos necessários. A última colocação de dívida voluntária havia sido feita pela Argentina em fevereiro de 2001. Posteriormente, o governo realizou operações compulsórias, em que obrigou bancos e fundos de pensão a absorver títulos públicos. Após o default foram emitidos papéis para serem entregues a correntistas que tiveram seus recursos bloqueados no chamado "corralito" e para compensar investidores pelas perdas causadas pela pesificação de depósitos em dólares. A nova emissão foi realizada sem que o país tenha concluído a reestruturação de sua dívida não paga com os credores privados. A proposta oficial obteve adesão de 76%, mas o lançamento dos títulos de troca ao mercado, previsto inicialmente para o início de abril, foi adiado pelo governo. As autoridades dizem que não concluirão a reestruturação até que seja concluído um processo em que fundos de investimento que rejeitaram a oferta argentina obtiveram na Justiça dos EUA o seqüestro de US$ 7 bilhões em bônus em default. O caso está sendo analisado por um tribunal de apelação e não se sabe quando o veredicto será emitido.