Título: O prêmio da eficiência
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 05/05/2005, EU &, p. D1

Nem sempre uma empresa com bons lucros garante ganhos para suas ações na bolsa. No entanto, o investidor que procurar companhias com resultados consistentes tem grandes chances de encontrar ações que distribuem bons dividendos aos acionistas e com alto potencial de valorização. Um estudo feito pela consultoria Lafis para o Valor revela que existe uma grande correlação entre as melhores companhias e o retorno em bolsa. A consultoria selecionou as empresas do Índice Bovespa pelo retorno sobre o patrimônio líquido, dividendos sobre o valor do papel (ou "dividend yield"), por preço da ação sobre lucro (P/L) e valorização das ações. O resultado mostra que três delas - Usiminas, Acesita e Ipiranga Petróleo - estão entre as dez melhores dos quatro rankings (ver tabela). "É um nível de intersecção alto, o que mostra que os resultados financeiros de alguma forma se revertem em ganhos, seja em dividendos ou em valorização das ações", diz o analista da Lafis, Daniel Gorayeb. O retorno sobre o patrimônio líquido mostra quanto o lucro da companhia representa de seu patrimônio. "É um indicador que aponta quanto a empresa lucra sobre o que ela realmente vale, traduzido por seu patrimônio", explica Gorayeb. Entre as companhias presentes no Ibovespa, a Usiminas é a ganhadora com um índice de 88,4%, ou seja, o lucro de 2004 representou 88,4% do patrimônio líquido. "Se a empresa ficasse com todo o lucro, fazendo um aumento de capital, praticamente dobraria de tamanho", diz. O indicador também é bastante positivo se comparado com a média de retorno sobre patrimônio das empresas do Ibovespa que é de 22,56%. Segundo Gorayeb, o retorno sobre patrimônio é uma boa maneira de identificar empresas com bons fundamentos. Depois da Usiminas estão outras siderúrgicas, como Gerdau, com retorno de 81,2% do patrimônio, e Acesita com 66,7%. Estão também commodities, como papel e celulose (Aracruz), mineração (Caemi e Vale do Rio Doce) e petróleo (Petrobras e Ipiranga Petróleo). A questão é saber se as perspectivas para essas empresas este ano continuam tão positivas. Pelo menos em siderurgia a resposta é sim. Segundo a analista do Banif Investment Banking, Catarina Pedrosa, os preços do aço começaram o ano em recordes históricos e devem cair lentamente, entre 5% a 10% frente ao pico. Mesmo assim, as cotações devem ficar em média 10% superiores às do ano passado. Isso vai se refletir nos resultados das siderúrgicas, que devem ser ainda melhores que os excelentes números registrados em 2004. "As siderúrgicas continuarão sendo boas opções de investimento", diz Catarina. Ela lembra que este pode ser um bom momento para a compra dessas ações, já que algumas estão caindo bastante este ano. Catarina aponta os papéis da Gerdau como uma das melhores oportunidades. Os bons resultados das companhias traduz-se em ganhos aos acionistas. O estudo da Lafis mostra que entre as dez empresas com os melhores indicadores de retorno sobre o patrimônio, quatro - Usiminas, Acesita, Ipiranga Petróleo e Souza Cruz - estão também entre as líderes de retorno em dividendos distribuídos. A vencedora é a Telesp fixa, com um dividend yield de 16,5% sobre o preço da ação. Usiminas aparece em terceiro lugar, com dividend yield de 13,4%, em seguida Ipiranga Petróleo, com 13,02% e Acesita, 11,07%. A Souza Cruz - tradicionalmente distribuidora de dividendos - é a décima colocada, com 8,14%. Na média, as empresas do Ibovespa têm um dividend yield de 6,266%. Uma empresa com bons resultados é indicativo de polpudos dividendos, já que pela Lei das Sociedades Anônimas (S.A.) as companhias abertas precisam distribuir pelo menos 25% do lucro líquido. Mas o analista da Lafis lembra que não estar entre as boas pagadoras de dividendos nem sempre é negativo. "Muitas vezes a empresa está reinvestindo os ganhos, o que mais tarde pode significar um aumento de produção e lucro maior", explica. Esse é o caso, por exemplo, das companhias de telefonia, especialmente as celulares. Algumas das empresas com os melhores retornos sobre o patrimônio líquido possuem também as menores relações de preço da ação sobre o lucro (P/L). A Usiminas encabeça a lista com P/L de 3,69, ou seja, se todo o lucro fosse distribuído para o acionista, ele teria o retorno do investimento em 3,69 anos. O P/L médio do Ibovespa é de 12,69 anos. "A Usiminas é o melhor dos mundos, uma empresa com excelente resultado, que distribui uma boa parte disso aos acionistas e ainda por cima com uma ação com potencial de alta, já que ainda não reflete todos os eventos positivos", define Gorayeb. Se os papéis da Usiminas já estivessem bem valorizados, o P/L da companhia seria maior. No ano passado, as ações preferenciais (PN) da Usiminas subiram 66,13% frente a um Ibovespa de 17,81%. O analista da Lafis lembra que é um engano achar que um P/L baixo é sempre uma boa oportunidade. Ao contrário da Usiminas, que ainda está com os papéis descontados, muitas empresas possuem um indicador baixo simplesmente porque não possuem bons fundamentos. "É preciso olhar os demais números da companhia", diz.