Título: Medidas visam combate a juros altos e inflação
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Brasil, p. A3

As medidas de redução de impostos que o governo pretende adotar para estimular o investimento, a produção e as exportações, estão sendo preparadas tendo, antes, uma preocupação dos economistas do Ministério da Fazenda de não anunciá-las como um viés de política industrial. Afinal, esses economistas são contra incentivos ou renúncias fiscais para determinados setores em detrimento de outros. O que move os formuladores da política econômica do governo a propor redução de impostos para determinados setores, sobretudo de bens de capital, é a constatação de que, a partir de "uma política industrial equivocada do regime militar, nos anos 70", conforme palavras de uma fonte oficial que participa da discussão, os bens de capital passaram a ter distorção de preços. Ou seja, os preços nesse segmento industrial ficaram, de lá para cá, muito superiores aos de bens de consumo e, portanto, o que estaria sendo feito, agora, seria um conserto na estrutura de preços relativos da economia, barateando os bens de capital, e não uma generosa distribuição de incentivos fiscais. Essa é a tese e ela se sustentaria, segundo seus seguidores, a partir da visão de que o retorno social da correção de preços relativos seria maior do que o retorno privado, para os empresários que produzem máquinas e equipamentos beneficiados pela redução da carga de impostos. Trata-se de uma crença que procura explicar porque os investimentos no país são abaixo do necessário para produzir taxas de crescimento sustentadas, assim como há os que acreditam que na raíz dos baixos investimentos estaria o chamado "risco jurisdicional". O foco das medidas fiscais, de uma forma ou de outra, é induzir o aumento da oferta de bens e serviços na economia, expandir de forma dinâmica o Produto Interno Bruto (PIB) potencial e, com isso, desamarrar o nó que se forma a cada vez que o país cresce e a demanda se descola da oferta. Ao distanciar o consumo da oferta disponível, a inflação entra em cena e o Banco Central aumenta a taxa de juros básica da economia para, ao conter a demanda agregada, esfriar o movimento de reajustes gerais de preços. O desaquecimento do nível de atividade começa a aparecer nos indicadores de produção e vendas, como resultado dos aumentos ininterruptos de juros desde setembro do ano passado e de uma política fiscal restritiva. Isso preocupa o governo, que receia entrar na campanha eleitoral de 2006 com números ruins na economia, justamente onde hoje apresenta seus melhores resultados.