Título: Furlan admite que câmbio já prejudica negócios e ameaça o investimento
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Brasil, p. A3

A baixa cotação do dólar em relação ao real já prejudica os negócios de setores como autopeças e calçados, ameaça empregos e investimentos no Brasil, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, em depoimento a uma comissão do Senado. Ele afirmou que o governo pretende manter a meta de dobrar as exportações nos quatro anos de gestão, para chegar a US$ 120 milhões em 2006, "mesmo com o câmbio do jeito em que está." Furlan, que, após a reunião com os senadores, evitou criticar a taxa de câmbio, foi pessimista, porém, ao falar para os parlamentares, a quem relatou os problemas dos setores de autopeças e de calçados. "Corremos o risco de perder um número significativo de empregos e investimentos de alta tecnologia", alertou Furlan, após lembrar que, em maio, as grandes montadoras internacionais negociam os contratos com os fornecedores, entre eles os produtores brasileiros de autopeças, que já vêm se queixando de redução de encomendas. "Muitos dizem que não é rentável (a venda de autopeças) com o aumento de custos e a taxa de câmbio do dólar a R$ 2,46", comentou. Ele lembrou que, em uma recente feira internacional de calçados, os produtores não conseguiram vender seus produtos. "Poderemos ter redução de exportações, principalmente nos setores de maior valor agregado", insistiu. "Os setores que vendem para grandes conglomerados estão sem espaço de negociação". Furlan defendeu a política industrial do governo e a parceria de seu ministério com a Receita Federal. Mas citou problemas de logística que, segundo afirmou poderiam ser resolvidos facilmente com empenho de altos funcionários do governo. "Eu gostaria de me tornar uma oficina de solução de gargalos, um despachante-geral no governo", disse, ao lembrar que a exportação de um grande produtor de eletroeletrônicos em Manaus chegou a parar pela falta, no porto, de um engenheiro-agrônomo encarregado da esterilização das embalagens. A retenção de navios nos portos fez o país "jogar fora" US$ 1,2 bilhão em multas e taxas por atraso, informou. Pela falta de uma ponte de US$ 10 milhões para o Suriname o país vende apenas 3% do que compra, queixou-se. O ministro que foi elogiado até por senadores da oposição, como Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Jefferson Peres (PDT-AM), aproveitou para criticar a atuação do Itamaraty no campo do comércio exterior. "Embora nos países do primeiro mundo o comércio exterior tenha ministério próprio, nos de segundo e terceiro esse tema está no Ministério de Relações Exteriores, que é mais voltado à negociação política", afirmou.