Título: CNI detecta desaquecimento mais intenso nas vendas
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Brasil, p. A3

A atividade industrial está em ritmo de desaquecimento e as causas apontadas pelos economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) são as políticas cambial e monetária. O real valorizado frente ao dólar reduz o faturamento das exportações de produtos manufaturados, principalmente bens de consumo (calçados e têxteis) e eletrônicos. E os altos juros vêm freando a demanda interna. A pesquisa mensal Indicadores Industriais da CNI revelou que, no primeiro trimestre, as vendas reais reduziram-se em 1,54% na comparação com os últimos três meses de 2004. Confrontando-se março com fevereiro, também houve recuo de 1,12% nas vendas da indústria, já considerando os fatores sazonais. As vendas da indústria, na comparação com igual período do ano passado, reforçam um ritmo mais intenso de desaquecimento: no acumulado do primeiro trimestre, as vendas ainda crescem 2,35%, mas em março a alta foi de apenas 0,7%. Outro indicador com variação negativa, de acordo com a pesquisa, foi o das horas trabalhadas na produção. No primeiro trimestre, a queda foi de 1,35% sobre o quarto trimestre de 2004. Em março, o recuo foi de 1,62% sobre fevereiro. O emprego industrial ainda não acompanha o ritmo descendente das vendas reais e das horas trabalhadas. Segundo a CNI, apesar da queda no faturamento, as empresas continuam contratando há três trimestres. O recorde fica para a massa de salários, que cresce há sete trimestres consecutivos. De acordo com os indicadores industriais da CNI, o emprego no setor aumenta há 18 meses, mas o ritmo perde intensidade. No primeiro trimestre, a variação foi positiva em 0,93% sobre o período anterior. Comparando-se março com fevereiro, ocorreu aumento de 0,20%. Nos dois trimestres anteriores, a expansão tinha sido bem maior: 2,57% no terceiro trimestre de 2004 e 1,65% nos últimos três meses do ano passado. A massa salarial também está menos dinâmica, segundo a CNI. Os salários líquidos reais neste primeiro trimestre cresceram 0,81% sobre o último trimestre de 2004. Em março, houve aumento de 2,03% sobre fevereiro. Mesmo com essas variações positivas, foi possível verificar desaquecimento comparando-se os ritmos dos dois últimos trimestres de 2004: 2,67% e 3,68%, respectivamente. Quanto ao uso da capacidade instalada da indústria, a pesquisa da CNI mostrou que, no primeiro trimestre, esse indicador foi de 82,6%, menor que a média de 83,3% nos dois últimos trimestres do ano passado. Na análise do coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, houve retração na atividade no primeiro trimestre. "O que vinha sendo perda de intensidade se materializa agora em vendas reais em queda, relativamente ao último trimestre do ano passado", justificou. Castelo Branco aponta a elevação de 3,5 pontos percentuais na taxa básica de juros Selic como redutora da demanda interna, o que encarece o crédito e desestimula investimentos. A outra causa é a valorização do câmbio, que deprime o faturamento das exportações de manufaturados. A perspectiva para o segundo semestre é preocupante, segundo o economista da CNI. Isso porque as duas causas do desaquecimento industrial - juros altos e real valorizado - continuam. Essas incertezas desestimulam investimentos voltados para a exportação. Quanto aos dados ainda positivos do mercado de trabalho, Castelo Branco avaliou que, mesmo assim, há perda de ritmo, e o emprego sempre tem reação atrasada em relação aos movimentos das vendas e da atividade. O Índice de Confiança do Empresário Industrial caiu e isso pode indicar menor intenção de contratar no futuro. O economista da CNI reconheceu que o único recurso de combate à inflação do Banco Central (BC) é subir os juros básicos. Ele recomenda que o governo busque complementar esse ataque à inflação reduzindo gastos públicos. Segundo Castelo Branco, o impacto da alta dos juros é pequeno sobre os preços administrados, indexados à inflação passada.