Título: Brasil apóia uruguaio à OMC, pensando na ONU
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Brasil, p. A4

O governo brasileiro decidiu apoiar, para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o nome do uruguaio Carlos Perez del Castilho, o candidato mais criticado publicamente pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ao anunciar o apoio, Amorim fez questão de ressaltar que a decisão se deveu ao fato de del Castilho ser o único sul-americano na disputa, com apoio dos outros países da região. Em um gesto político e diplomático, o governo anunciou o apoio não ao próprio del Castilho, mas ao presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, primeiro presidente de esquerda na história do país e aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Buenos Aires, o embaixador e ex-ministro da Defesa José Viegas disse o Brasil espera que seu apoio à candidatura uruguaia à OMC seja retribuído com o voto do Uruguai à proposta brasileira de reforma da ONU, pela qual o país poderia obter um assento no Conselho de Segurança. "Nós estamos apoiando o candidato uruguaio para a OMC, e (a disputa) havia sido um problema que dificultava um pouco a acomodação do Uruguai em relação ao Conselho. De maneira que nós temos a impressão de que com esse impedimento removido, não haveria discordância", afirmou Viegas. O embaixador está viajando pelos países da região para promover a candidatura do Brasil ao Conselho da ONU. No caso uruguaio, o governo anterior havia se comprometido explicitamente a apoiar o Brasil, mas após a posse de Tabaré Vázquez , mudou sua postura ao dizer que sua escolha "considerará os laços históricos com o Brasil". Amorim e os diplomatas brasileiros em Genebra acusam del Castilho de ser um dos responsáveis pelo fracasso da reunião ministerial da OMC em Cancún, em 2003, quando, como presidente do conselho-geral da organização, o uruguaio apresentou uma proposta de negociação sobre os temas agrícolas recusada por grande parte dos países em desenvolvimento. Naquela reunião, a delegação do Brasil, chefiada por Amorim, o acusou de ceder às pressões dos países ricos, com uma proposta refletia as posições dos Estados Unidos e União Européia. A decisão do governo brasileiro sobre o apoio a Carlos del Castilho veio depois de uma rodada na qual o Brasil se absteve, e que resultou na eliminação do candidato favorito pelos países pobres da África e do Caribe, Jaya Cuttaree, das Ilhas Maurício. Del Castilho disputa o cargo com o francês Pascal Lamy, ex-comissário de comércio da União Européia.(SL e PB)