Título: PT deve usar aprovação de pontos da reforma política como moeda de troca
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Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Política, p. A5

Com o governo dividido em torno do assunto, o PT decidiu abrir negociação com os outros partidos sobre o fim da verticalização. Em conversas com os senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Marco Maciel (PFL-PE), o presidente da sigla, José Genoino (SP), disse que pode ter uma postura "mais positiva" em relação ao fim da verticalização, se os partidos aceitarem votar pelo menos três outros itens da reforma política: a fidelidade partidária, o aumento de um para três anos no prazo de filiação partidária para que alguém se candidate e a mudança do regimento da Câmara para que a composição dos cargos - comissões e mesa - leve sempre em consideração o critério da bancada feita por cada partido nas eleições. Os grandes partidos concordam com Genoino, mas os pequenos, para votar, querem diminuir os percentuais que cada legenda deve obter nas eleições de 2006 - 5% dos votos, no país, e 2% em pelo menos nove Estados -, a chamada cláusula de barreira. Defendem a tese o PCdoB, PDT, PV, que não conseguiram esses índices nas últimas eleições, e até o PSB. Os grandes, inclusive o PT, querem manter esse dispositivo para as próximas eleições, como está previsto. "É uma limitação que impõem, para dizer que os partidos menores não são bons para a democracia", protesta o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). No PT da Câmara, já se admite que o fim da verticalização ocorrerá independentemente da negociação aberta por Genoino com os partidos. Provavelmente na terça-feira ele se reunirá com os outros presidentes de partido, a convite do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir o assunto. O desânimo do PT se deve ao fato de o governo não ter dado qualquer orientação em relação ao projeto que acaba com a verticalização das eleições. Na realidade, Lula deve dizer aos partidos que não tem posição fechada sobre o tema e que o assunto é da competência exclusiva do Congresso. Lula já pensou que a verticalização era boa para sua reeleição, mas hoje demonstra que não está plenamente convencido disso. O assunto divide também o governo. Os ministros Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Alfredo Nascimento (Transportes), por exemplo, são contrários à verticalização. O presidente tem ouvido de assessores que, com o fim da verticalização, ele terá mais condições de fechar uma aliança nacional com partidos como o PMDB, por exemplo. Por outro lado, facilita as coisas para legendas aliadas como o PTB, PL, PSB, que ficariam livres para se compor nos Estados - a verticalização impede que partidos com candidato a presidente da República possam se coligar com outros partidos regionalmente. A proposta de Genoino aos presidentes de partido deixa para 2008 a discussão sobre outros itens da reforma política, como a votação em lista e o financiamento público de campanha. Contra a verticalização se juntaram praticamente todos os demais partidos com representação no Congresso. O PSDB está dividido, mas resolveu apoiar a tese a pedido do governador de Minas, Aécio Neves, que formou uma ampla coligação no Estado. A rigor, a verticalização interessa especialmente ao PT: a sigla acredita que, com eleição verticalizada, poderia atingir ou se aproximar do percentual de votação de Lula, que é bem superior ao do partido. Ontem o fim da verticalização ganhou publicamente outro defensor de peso, o presidente do Senado. "Sou contra a verticalização, os partidos estão se movimentando neste sentido, ela até pode ser interessante, mas como conseqüência de uma reforma política", disse Renan. Todos estes fatores confirmam a avaliação de diversos parlamentares de que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deve admitir na terça-feira a continuidade da PEC que acaba com a verticalização. "Além desses fatores temos que lembrar que a verticalização vai cair por uma PEC, ou seja, não precisa ser aprovada até 30 de setembro para vigorar nas próximas eleições - já que é uma alteração na Constituição - e isso fez com que o PT desistisse do adiamento da análise da matéria", afirmou o vice-líder do PSDB, Eduardo Paes (RJ). (RC e HGB)