Título: As chances de Wilson Lima
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2010, Cidades, p. 25

Caso distritais optem por uma solução caseira, o nome do governador em exercício é o mais forte para assumir de forma definitiva até dezembro, mas um grupo defende a escolha de um candidato do meio jurídico

O que deixou o governador em exercício, Wilson Lima (PR), à vontade para se lançar candidato às eleições indiretas é a confiança de que seu nome está bem cotado entre a maioria dos colegas da Câmara Legislativa. Se os deputados conseguirem levar a termo a intenção de eleger um distrital, o nome será Wilson Lima. Os integrantes da Câmara avaliam que ele não criará dificuldades para os interesses políticos da Casa, entre os quais a manutenção de cargos vinculados aos deputados na administração pública. Além disso, da turma que defende a escolha de um nome do Legislativo local declaradamente 13 , a avaliação é de que pegaria mal trocar Wilson por outro colega. Receosos, no entanto, do impacto que a decisão de insistir numa solução caseira terá, o grupo que defende a permanência de um distrital na cadeira de governador já considera apoiar um candidato sem mandato parlamentar.

Wilson Lima não teria revelado a intenção de continuar no cargo não fosse o apoio recebido de seus colegas. Na tarde da última quarta-feira, ele esteve na Câmara e deu início a uma campanha pública para ficar no posto de governador. Wilson Lima tem lapidado sua candidatura com base em duas atitudes: agradar a categorias, concedendo aumentos com percentuais até então improváveis a diferentes setores, e atender a pedidos de deputados, que querem manter funcionários na estrutura do GDF. A combinação lhe renderia uma vitória fácil não fosse o risco de intervenção que assombra os distritais. E é aí que entra um componente alheio à vontade e à caneta do governador em exercício: é a aceitação do governador interino perante a opinião pública, considerada pelos distritais um termômetro para aferir o risco intervenção.

A confrontação entre os prós e os contras em torno do nome de Wilson Lima foi tema de uma reunião na noite de quarta-feira com a presença de 11 deputados (do grupo favorável à eleição de um distrital em abril). Eles se encontraram na casa de Cristiano Araújo (PTB) com a intenção de avaliar a postura de Wilson Lima, que naquele dia havia declarado publicamente a candidatura. O governador em exercício recebeu uma saraivada de críticas dos colegas, que consideraram a atitude precipitada. É como numa partida de futebol decisiva em que a bola está nos pés de Lima e ele pode marcar um gol ou perder um pênalti. Ao se expor desnecessariamente, está mais perto de desperdiçar o pênalti do que de fazer o gol, comparou um dos presentes ao encontro.

Plano B Uma das alternativas conversadas pelo grupo simpático à eleição de um distrital caso aumentem as ressalvas contra Wilson Lima é apoiar um candidato do mundo jurídico. A única dificuldade é que alguns nomes pensados ou não têm filiação partidária ou mudaram de legenda em outubro, o que geraria questionamentos. A legislação eleitoral afirma que o candidato precisa estar há um ano filiado ao partido pelo qual concorrerá e as regras para as eleições indiretas publicadas ontem pela Mesa Diretora da Câmara seguirão os parâmetros das resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sinal de que o projeto Wilson Lima começa a dar sinais de revés é o movimento do PR que se encaminha para uma aliança nacional com o PSC, o que pode repercutir na aproximação com o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Cenário considerado propício à tese de intervenção e que, por isso, é malvisto pelos deputados. Não tenho dúvida de que se dependesse apenas da vontade dos distritais, Wilson Lima estaria eleito. Mas a ameaça de intervenção tornou os distritais mais criteriosos, considera Paulo Tadeu, que lidera a bancada do PT, contrária à escolha de um deputado nas eleições indiretas.

Não tenho dúvida de que se dependesse apenas da vontade dos distritais, Wilson Lima estaria eleito. Mas a ameaça de intervenção tornou os distritais mais criteriosos

Paulo Tadeu, deputado distrital

Memória

Marca própria ao governo

Em 23 de fevereiro, Paulo Octávio renunciou ao cargo de governador, o qual exercia na interinidade e liberou com isso a cadeira para o próximo na linha sucessória, o então presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR). O distrital havia sido eleito com desistência de Leonardo Prudente do comando da Câmara, que renunciou inclusive ao mandato para escapar da cassação e evitar a perda dos direitos políticos.

Lima acabou se tornando a opção para substituir Prudente não pela liderança entre os pares, mas por ser um perfil considerado de fácil trato, o que é tido como uma qualidade numa Casa onde se disputa cada centímetro de poder.

Desde o dia em que seguiu para o Executivo, Lima tem se destacado por comandar uma máquina sem gerar descontentamentos. Concedeu aumento de salário a servidores e tem agradado aos colegas da Câmara, fazendo uma gestão compartilhada. Em entrevista ao Correio, dias antes de se confirmar na chefia do Executivo, o distrital já falava como governador e disse, na ocasião, que não aceitaria ingerência política, queria imprimir a própria marca no GDF. (LT)

Preso, Arruda vai depor na segunda

Naira Trindade

Os depoimentos do ex-governador José Roberto Arruda e de Weligton Morais, ex-chefe da Agência de Comunicação do GDF, foram marcados para a manhã da próxima segunda-feira na Superintendência da Polícia Federal e na Papuda, locais onde estão detidos, respectivamente. A Polícia Federal informou que Arruda recebeu a notificação por meio dos advogados, mas os horários não foram divulgados. Já Domingos Lamoglia, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Distrito Federal, e os ex-secretários Roberto Giffoni, de Ordem Pública e Defesa Social, e Durval Barbosa, de Relações Institucionais devem prestar depoimentos até quinta-feira da semana que vem.

Preso desde 11 de fevereiro, Arruda aguarda o julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ) do pedido de liberdade feito ao ministro Fernando Gonçalves, relator do Inquérito nº 650, que investiga a Caixa de Pandora. Ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviaram parecer ao STJ pela manutenção da prisão. Eles refutaram todas as argumentações da defesa: piora no tratamento prisional dado ao ex-governador, por meio de humilhações e de arbitrariedades; agravamento do quadro clínico; ausência de assistência médica e de contato pessoal com os advogados.

Roberto Gurgel e Raquel Dodge dizem que há provas nítidas das condições dignas que são asseguradas ao ex-governador e de que não houve piora no seu tratamento prisional. As fotos da sala especial que ele ocupa revelam que o ambiente é amplo, iluminado, ventilado, refrigerado, mobiliado e limpo. O requerente toma banho de sol duas vezes ao dia, faz caminhadas e recebe visitas. Os alimentos que ele ingere são trazidos de sua própria residência. A longa lista de consultas médicas e de enfermagem qualificadas que ele teve, em média duas vezes ao dia desde a data da prisão, e os exames laboratoriais e específicos realizados no mesmo período revelam que ele recebeu assistência médica intensa e adequada. Além disso, recebeu assistência diária de seus advogados, em contatos pessoais e reservados, apontaram.

Paulo Octávio

No início da tarde de ontem, a ex-primeira-dama Flávia Arruda chegou à Superintendência da Polícia Federal carregando documentos timbrados com símbolo da República. Os advogados de defesa, Thiago Bouza e Luciana Lóssio, estavam na cela reunidos com Arruda à espera da ex-primeira-dama. Os documentos poderiam ser cópia da notificação. Nenhum dos advogados quis falar com a imprensa na saída da PF. Mais tarde, Arruda recebeu também a visita de um padre. Identificado apenas como Alessandro, ele deixou a PF após cerca de duas horas.

Sem ser convocado, o ex-vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (sem partido), se antecipou e procurou espontaneamente a unidade da Polícia Federal, na 103/104 do Sudoeste, às 13h de ontem para prestar depoimento. O empresário, no entanto, se manteve calado durante todo o depoimento. De acordo com o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o ex-vice-governador tinha interesse em esclarecer pontos nas investigações sobre corrupção no Governo do Distrito Federal. Mas preferiu seguir a orientação de usar o direito previsto na Constituição Federal de permanecer em silêncio. Após ação voluntária, Paulo Octávio não será mais intimado a depor nas investigações sobre a Operação Caixa de Pandora.

Para o advogado de Paulo Octávio, antes que seu cliente falasse em depoimento, seria necessário que ele tivesse acesso à íntegra do processo para adiantar sua defesa. Entrei com petição às 9h de hoje (ontem) no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para ter acesso a todo o inquérito, inclusive aos áudios, aos vídeos e à perícia do INC (Instituto Nacional de Criminalística), que ainda não está pronta, justificou. Segundo Kakay, o local do depoimento foi determinado pela Polícia Federal. Ele (PO) estava disposto a ser ouvido. Entrei em contato com a PF e eles nos encaminharam para lá, relatou.

O número

11 de fevereiro

Data em que o STJ decretou a prisão do ex-governador José Roberto Arruda