Título: Blair ganha, mas fica sem força
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Internacional, p. A7

Pesquisa de boca-de-urna indica que Tony Blair e os trabalhistas venceram as eleições de ontem no Reino Unido, com 37% dos votos. O partido, contudo, deve ter sua maioria no Parlamento reduzida de 160 cadeiras para 66, de acordo com a previsão das redes de TV BBC e ITV. Com a vitória, Blair torna-se o primeiro trabalhista a conseguir três mandatos consecutivos à frente do Executivo do país. Desde 1832, o único outro líder britânico a conseguir tal feito foi a conservadora Margaret Thatcher, premiê entre 1979 e 1990. A pesquisa BBC/ITV prevê ainda que o Partido Conservador, com 33% dos votos, ganhará 44 novos assentos, passando para 209, enquanto os Democratas Liberais, com 22%, aumentarão sua bancada em apenas duas cadeiras, ficando com 53. Os trabalhistas devem ficar com 356, de um total de 646. Apesar da vitória, Blair sai da disputa abalado. "Se essa pesquisa de boca-de-urna se confirmar, será inacreditavelmente ruim para Blair", afirmou Mark Wickham-Jones, da Universidade Bristol. "Ele ficará consideravelmente enfraquecido. Meu palpite é que isso apressa a partida de Blair. Ele pode não estar mais lá no Natal." Ainda que a vantagem trabalhista no Parlamento continue bastante razoável, o premiê passará a encontrar resistências maiores, inclusive dentro de seu partido, para prosseguir com reformas que planeja na educação, saúde, leis antiterror e Previdência Social. "Com a maioria encolhida, começará a ficar difícil para Blair conseguir a aprovação de leis mais contenciosas", disse Peter Kellner, analista do instituto de pesquisas YouGov, em Londres. Blair, que hoje completa 52 anos, afirma que esta foi sua última campanha política. Apesar de ter declarado que pretende ficar à frente do governo por todo o período de cinco anos do mandato, vão aumentar as pressões para que antecipe sua aposentadoria, abrindo caminho para a ascensão do atual ministro das Finanças, Gordon Brown, que tem maior popularidade. Pelas leis britânicas, o primeiro-ministro pode deixar o cargo a qualquer momento de seu mandato, sendo substituído por outro membro do partido sem a necessidade de nova eleição. Considerado o principal responsável pelas vitórias trabalhistas em 1997 e 2001, desta vez Blair entrou na disputa com a imagem bastante arranhada, principalmente pela decisão de invadir o Iraque. Muitos analistas dizem que a vitória trabalhista foi obtida "apesar" de Blair. A insatisfação com o premiê foi compensada pelo desempenho excelente da economia: os últimos oito anos formam o período de maior expansão em mais de 200 anos, com inflação anual abaixo de 2% e desemprego em 4,8% - menos da metade da taxa na França e Alemanha, por exemplo. O mercado financeiro recebeu bem a continuidade do Partido Trabalhista no poder. As ações e títulos do Tesouro subiram durante o dia, reagindo à divulgação das últimas pesquisas realizadas antes da abertura das urnas. Pouco depois de a votação ter sido iniciada no Reino Unido, às 3h35 em Nova York, duas granadas caseiras explodiram dentro de um vaso de plantas diante do prédio que abriga o escritório diplomático do país na cidade. Não houve feridos e ninguém reivindicou o atentado.