Título: Brasil é contra isolamento, mas ainda tem comércio pequeno com a ilha
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Especial, p. A10

No jogo do comércio internacional cubano o Brasil pouco se destaca. "Temos relações normais com Cuba", diz o ministro conselheiro da embaixada brasileira, Miguel Gustavo de Paiva Torres, para quem as relações da ilha com Venezuela e China são "especiais". Segundo ele, a posição do Brasil em relação a Cuba não mudou. "Somos contra o isolamento da ilha e contrários a qualquer tipo de sanção econômica contra Cuba, defendemos o diálogo com o governo Castro e sua incorporação à comunidade latino americana." Paiva Torres negou que a embaixada em Havana esteja liderando negociações para Cuba entrar no Mercosul. Mas não descarta essa possibilidade, apesar da distância do bloco. Recentemente, o BNDES liberou US$ 30 milhões para Cuba comprar alimentos de empresas brasileiras. Tem havido também progresso na balança comercial dos dois países, diz José Eduardo Bernardo dos Santos, 2º secretário da Embaixada e chefe do setor comercial. Ele adiantou que em 2004 a conta de comércio bilateral bateu recorde, fechando em US$ 176 milhões, dos quais US$ 131 milhões de exportações brasileiras e US$ 45 milhões de exportações cubanas. "As vendas brasileiras cresceram 90% entre 2004 e 2003 e as cubanas, 95%". Sua expectativa é que o sucesso se repita este ano. O Brasil vende para Cuba frango, embutidos, carne suína e calçados. Cuba exporta para o Brasil nafta, sinter de níquel, cimento, charutos e cigarros. Petrobras e Vale do Rio Doce estão examinando negócios em Cuba. O presidente da Vale, Roger Agnelli, esteve recentemente na ilha, onde foi recebido por Fidel Castro. Agnelli tem interesse no níquel cubano. Segundo a embaixada, a idéia da Vale é fazer uma joint-venture para explorar localmente o metal. A Petrobras estuda projetos de construção de refinaria e sociedade com o Estado em uma fábrica de lubrificantes. A estatal brasileira está negociando ainda oferta de blocos cubanos para exploração de petróleo em águas profundas no Golfo do México. Até agora, a única empresa mista que o Brasil tem com o governo cubano é a Brascuba, associação da brasileira Souza Cruz, controlada pela British American Tobacco (BAT) com a Tabacuba (União das Empresas de Tabaco de Cuba), com participação acionária de 50% /50%. A empresa é considerada pela embaixada "um caso paradigmático", pois trata-se de uma sociedade bem sucedida que completou este ano 10 anos de vida. O segredo do sucesso é que a Brascuba tem dois co-presidentes, um cubano, Adolfo Días Suárez, e um brasileiro, José Benikes, 240 empregados, dos quais apenas três são brasileiros. Com capacidade instalada para produzir 4 bilhões de cigarros/ano fabrica 1,9 bilhão de unidades, das quais 1,35 bilhão para o mercado interno de divisas, voltado para turistas e cubanos com poder aquisitivo em pesos conversíveis (moeda mais valorizada que substituiu o dólar nas transações turísticas e comerciais dentro do país) e 500 milhões de unidades para exportar para Itália, Espanha, França, México, Rússia e Japão. Na parceria, a Souza Cruz entrou com as marcas Hollywood e Lucky Strike, mais tecnologia do filtro, enquanto os cubanos com a técnica do plantio e preparação do fumo negro e marcas de "puros" (charutos cubanos) como Cohiba, Romeo y Julieta, Hoyo Monterreys, H.Upmann, Vegas Robaina e Popular, distribuídos em 4.600 pontos de vendas no país. Dos 11,2 milhões de habitantes de Cuba, 3,8 milhões são fumantes. Os cubanos gostam de trabalhar na Brascuba, que premia os melhores trabalhadores com 10% do salário em pesos conversíveis. De modo geral, o povo cubano só ganha em pesos cubanos. A conversão é de 24 pesos cubanos para um conversível. O governo tem essa política para arrebanhar divisas, mas planeja empatar as moedas no médio prazo. Recentemente, Cuba desvalorizou o dólar em 8%. Hoje, o dólar americano vale 82 pesos conversíveis. (VSD)