Título: Martins admite pressão, mas diz que não há ultimato
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2005, Empresas &, p. B4

O presidente da Varig, Carlos Luiz Martins, admitiu ontem que existe uma pressão para que se apresente rapidamente uma solução para a companhia, mas negou que o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, tenha dado um prazo até hoje para que isso ocorra. "Realmente, o ministro pediu aos curadores (Conselho de Curadores da Fundação Ruben Berta) urgência no encaminhamento de solução do caso", disse Martins, que participou ontem, na Firjan, de seminário sobre a Lei de Falências promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O presidente da Varig afirmou que a companhia está fazendo pagamentos de débitos em dia e descartou qualquer tipo de represália por parte da Infraero ou da BR Distribuidora, ambas credoras da empresa. "Não existe esse risco de corte de combustível, a BR inclusive está lançando uma nova campanha de milhas amanhã (hoje)", completou ele. Sobre a possibilidade de uma eventual intervenção, Martins não fez comentários: "Não sei no que eles estão pensando". Durante palestra em que apresentou detalhes da situação atual da Varig, o presidente defendeu que os números atuais da empresa são bons e competitivos e fez duras críticas ao governo. "O problema é tributário. Só em contingências ativas, existem R$ 1,35 bilhão em créditos tributários de ações de ICMS em diferentes Estados; R$ 3 bilhões de defasagem tarifária e mais R$ 2,2 bilhão em prejuízos fiscais. Com esses valores, se as regras de contabilidade fossem mais justas, o patrimônio da empresa estaria positivo em R$ 126 milhões", disse Martins, que lamentou a demora em conseguir os créditos. "A ação da defasagem tarifária que já foi ganha no STJ será encaminhada ao STF, não sei porque, pois não é matéria constitucional. É uma ação protelatória, o governo diz que quer resolver o problema da aviação e da Varig, mas não faz nada, está postergando uma ação. Quer uma solução de mercado, mas congelou tarifas e os insumos, não", atacou. Segundo Martins, má gestão é a "última coisa" que existe hoje na Varig e que, apesar de todo seu passivo, a empresa está viva mesmo com todo o ambiente competitivo do setor hoje. "A Varig virou de repente a Geni brasileira, todo mundo joga pedra", disse ele, lembrando que a receita operacional cresceu 40% no último ano e que a empresa hoje tem o maior índice de pontualidade. "É necessária uma capitalização, um investimento privado ou público, a Varig só quer um acordo e condições para pagar essa dívida que foi contraída no passado, seja um alongamento, seja a redução de multas, seja a mudança na incidência de juros", afirmou Martins. Ele não quis detalhar as possíveis propostas que estão sendo estudadas. "Minha função é executiva, quem cuida disso é a Fundação Ruben Berta", afirmou. Martins não desmentiu que exista um "namoro" com a TAP, mas desconversa sobre o estágio desta e de outras propostas. "A Varig é tão atraente que todo mundo quer namorar com ela hoje, são muitos namoros", disse. A FRB informou que realmente existe uma proposta de parceria operacional da companhia portuguesa. Amanhã, haverá assembléia de acionistas da Varig em Porto Alegre e deverá ser escolhido um novo presidente do Conselho, em substituição a Joaquim Santos. Também serão substituídos os conselheiros Eduardo Araújo e Harro Fouquet. A FRB também confirmou a saída do diretor financeiro da Varig, Luiz Fernando Wellish, cujo sucessor deve ser escolhido também amanhã. A informação que circulava ontem sobre a possibilidade de o ex-presidente da ANP, David Zylbersztajn ser indicado a assumir o conselho não foi confirmada pela fundação.