Título: Impacto direto na inflação será pequeno e diluído
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Brasil, p. A-4

O impacto do aumento da gasolina e do diesel, que começa a vigorar a partir de hoje, será modesto na inflação e diluído em outubro e novembro. Assim, ele permite que a meta de até 8% para o IPCA neste ano seja cumprida. Um novo reajuste é esperado, mas economistas avaliam que seu anúncio deve ser feito mais perto do fim do ano de modo a afetar apenas a inflação de 2005. "O reajuste da gasolina e do diesel é pequeno e está abaixo dos cálculos dos analistas. Pode vir um outro aumento, talvez depois das eleições", disse ontem o coordenador da pesquisa de preços da FIPE/USP, Paulo Pichetti, referindo-se ao segundo turno marcado para 31 de outubro. Concorda com ele o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. "Foi um aumento modesto, não foi um tarifaço. E o impacto direto será pequeno. A desvantagem é que deixa a expectativa de novos aumentos", disse Quadros. Em sua opinião, houve uma "preocupação formal", por parte do governo, em relação ao cumprimento da meta de inflação para este ano. "O importante é o IPCA ficar abaixo de 8% e acho que vai ficar". Quadros também espera novo reajuste para a gasolina e o diesel, mas acha que o governo procurará anunciá-lo de forma a que seus efeitos só atinjam os índices de preços em 2005.

Pichetti elevou a previsão do IPC de outubro de 0,40% para 0,44%. Em seus cálculos, considerou as contas feitas pela Petrobras, de que o aumento do preço da gasolina e do diesel para o consumidor será de 1,6% e de 3,8%, respectivamente. "O impacto da gasolina no IPC de outubro será de 0,02 em outubro e de 0,02 em novembro. O do diesel será de 0,01 em cada mês". Os efeitos indiretos do reajuste, ou seja, nos preços de produtos industrializados e em serviços Pichetti estimou em 0,02 ponto percentual dividido entre outubro e novembro. Ele não tem previsão para o índice cheio de novembro, mas disse que o IPC de 2004, estimado em 6%, "vai ficar um pouco acima de 6%". Há duas semanas, Quadros havia feito uma simulação de impacto no IGP considerando um aumento de 10% para gasolina e diesel. O resultado foi um aumento de 0,5 ponto no índice. "Como o aumento anunciado foi mais ou menos a metade do que o esperado, calculo que o impacto no IGP fique em torno de 0,3 ponto, dividido entre outubro e novembro", explicou. O cálculo coincide com o feito pelo analista Paulo Gomes, da Global Invest, que reviu suas projeções de outubro para cima: IGP-M e IPCA para 0,50% e IGP-DI para 0,55%. Gomes também espera que um novo reajuste seja anunciado pela Petrobras, após as eleições municipais, entre 5% e 10%. Gomes observou, em relatório enviado a clientes ontem, que "nos Estados Unidos a gasolina já subiu 34% em dólar neste ano, enquanto no Brasil houve apenas o reajuste de 14 de junho, de 10,6%. Como o dólar se desvalorizou apenas 1% em 2004 até hoje, os preços no mercado interno deveriam subir 20% para acompanhar a cotação americana". A equipe de economistas do Bradesco avalia que o mercado internacional de petróleo deve continuar apertado e volátil e que "uma retração dos preços levará tempo para se materializar." O banco espera um ajuste da oferta de petróleo para cima, mas não a curto prazo, e um arrefecimento do crescimento mundial em 2005. Portanto, o preço do petróleo deve continuar em patamar elevado. O Departamento de Energia dos EUA prevê que o preço do petróleo do tipo WTI caia abaixo de US$ 40 o barril somente no último trimestre do próximo ano. Ontem, o WTI fechou a US$ 54,76.