Título: Cúpula deve pedir saída de Israel de territórios
Autor: Daniel Rittner e Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Brasil, p. A4

O conflito Israel-Palestina ocupa um dos trechos mais polêmicos da Declaração de Brasília, documento final da Cúpula América do Sul-Países Árabes, que começa amanhã com apenas metade das nações representadas pelos seus chefes de Estado ou governo. Sujeito a mudanças até o último minuto, o rascunho da declaração pede a retirada de Israel dos territórios ocupados nos países vizinhos e a volta às fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967. Segundo explicou um diplomata que participou da negociação do documento, o pedido não vai além do que já definem resoluções aprovadas pela ONU, mas desrespeitadas pelo governo israelense. A mais importante delas é a resolução 242, do mesmo ano de 1967, que determinava a devolução dos territórios ocupados pelo exército israelense na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental - região delicada para judeus, cristãos e muçulmanos. Em um momento de retomada das negociações de paz entre Israel e Palestina, a declaração poderá causar forte constrangimento ao governo de Ariel Sharon, que nunca aceitou o conteúdo das resoluções da ONU. Embora o Itamaraty faça questão de ressaltar que a cúpula "não tem a intenção de tratar e resolver os grandes problemas internacionais", conforme disse o embaixador Pedro Motta Pinto Coelho, diretor do Departamento de África, outros pontos polêmicos serão mencionados na declaração, entre eles, terrorismo, Iraque e reforma da ONU. Mas há incertezas quanto a menções ao termo "democracia", com possíveis vetos por parte dos árabes. O Itamaraty alega que a participação de países como Líbia e Síria na reunião não pode ser interpretada como aval dos sul-americanos a regimes tirânicos. "Na visão deles, a democracia passa também por crenças religiosas e espirituais", diz o embaixador Mário Vilalva, do Departamento de Promoção Comercial. As prováveis referências a Israel podem transformar-se em um constrangimento a Israel e a seu principal aliado na política externa, os EUA. Apesar disso, o governo brasileiro diz que a própria secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em sua visita ao Brasil, elogiou a iniciativa da cúpula. Dos 34 países que participarão da cúpula, apenas 17 estarão representados pelos chefes de Estado ou governo. Entre as ausências mais notadas, do lado árabe, destacam-se o presidente do Egito, Hosni Mubarak, o líder líbio Muammar Kadafi, e o presidente da Síria, Bachar Al-Assad. Do lado sul-americano, faltarão três mandatários. O Equador, ainda com o rescaldo da crise política, enviará o ministro das Relações Exteriores. Assim fará também o Suriname, envolvido no processo de sucessão presidencial. A Colômbia mandará o vice-presidente Francisco Santos Calderón - o Itamaraty vê a ausência do presidente Álvaro Uribe como uma forma de deixar clara a sua proximidade com os EUA e de evitar fotografias ao lado de líderes de nações que acolhem grupos extremistas. Paralelamente à cúpula, um encontro empresarial reunirá cerca de 830 representantes de companhias - além dos brasileiros, cerca de 190 árabes e outros 190 dos demais países sul-americanos. O Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Emirados Árabes, Omã, Kuwait, Catar e Bahrein) devem assinar um acordo-quadro de livre comércio, estabelecendo um marco jurídico para a negociação de produtos. O presidente Lula aproveitará a ocasião para fazer reuniões bilaterais. Hoje à noite, jantará com Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela).