Título: Indicadores apontam para rumos divergentes
Autor: Vera Saavedra Durão e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Brasil, p. A5

Na virada do primeiro para o segundo trimestre o cenário econômico trouxe mais sinais dúbios. Muitos indicadores apontam rumos divergentes. Pelo lado da oferta, a produção da indústria está acomodada. Ao mesmo tempo, a demanda segue em recuperação e com perspectivas de fortalecimento pelo aumento da massa salarial. A indústria contrái a produção, mas ainda contrata. O Banco Central sobe os juros, mas o crédito para pessoa física está em expansão. Dirceu Bezerra Jr, sócio-diretor da Rosenberg & Associados, afirma que os fatores condicionantes da demanda estão bem, o que indica que o mercado doméstico pode impulsionar com mais força a indústria nos próximos meses. "Temos crédito e massa de salários em expansão, o que amplia a propensão ao consumo". Não há por que o nível de atividade não voltar a crescer, completa. Pelos cálculos de Fábio Romão, da LCA Consultores, a massa salarial avançou 2,60% no primeiro trimestre do ano em relação ao final do ano passado, sendo que o rendimento contribuiu com 3,67%, enquanto a ocupação teve influência negativa de 1,04%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2004, a massa subiu 5,75%, mais influenciada pela ocupação (3,95%) do que pelo rendimento (1,73%). "O importante é que na margem essa tendência tem se invertido, com ganho de participação da renda", argumenta Romão. Esse cenário vai ajudar o comércio a crescer já em março. Bráulio Borges, também da LCA, espera que na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o varejo tenha crescido 3% sobre fevereiro e quase 9% ante março de 2004. O que ajuda a sustentar essa previsão são dados positivos como os divulgados em São Paulo na última semana, onde o comércio apontou alta de 14,7% no faturamento em março sobre o mesmo mês do ano passado. Por outro lado, os indicadores industriais referentes a abril já sinalizam estabilidade ou até mesmo queda da atividade e não acompanham a perspectiva de um ímpeto maior pelo lado da demanda doméstica. Pelos dados com ajuste sazonal da LCA , a produção de veículos automotores caiu 2,9% entre março e abril, enquanto o consumo de energia elétrica cresceu timidamente, 0,6%. A Sondagem Conjuntural da Indústria, apurada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) também mostrou acomodação. Com isso, a consultoria prevê uma queda de 0,4% na produção de manufaturados em abril frente a março e crescimento de 5,3% em relação a abril do ano passado. (RS)