Título: Brasileiros fecham negócios para vender na França
Autor: Daniela Fernandes
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Empresas &, p. B6

Neste Ano do Brasil na França não são apenas os eventos culturais que estão estão despertando a curiosidade dos franceses. Muitas empresas estão aproveitando esta temporada de exposições e inúmeras outras atividades na área da cultura para fazer negócios. E com um objetivo preciso: que eles não se limitem simplesmente a este período durante o qual o Brasil está na moda em terras gaulesas, mas passem a fazer parte dos hábitos de consumo dos franceses. Na semana passada, 40 empresas brasileiras mostraram durante três dias seus produtos no "Salon du Brésil à Paris". Representaram os mais variados setores da indústria: alimentos, bebidas, cosméticos, confecção, calçados, móveis, entre outros. Segundo o presidente do salão, José Luiz de Paula Jr., a expectativa inicial era realizar negócios da ordem de 350 mil euros. Esse valor, disse, foi superado em 20%. Entre as marcas presentes no Palais des Congrès de Paris estavam a linha de cosméticos Ox, os sabonetes Francis, charutos Angelina, calçados Grendene, Ferracini e Du Pé, o café La Pastina, o estilista Fernando Pires, a Forno de Minas, lingeries Liz e Fruit de la Passion. Expositores entrevistados pelo Valor disseram ter boas perspectivas de novos negócios. Se depender das filas criadas em frente ao estande da Forno de Minas para degustar o pão de queijo (especialidade que não existe na França), pode-se imaginar uma boa perspectiva para a maior parte deles. A Forno de Minas, empresa que faz parte do grupo norte-americano General Mills e que afirma ter 42% do mercado brasileiro em restaurantes e supermercados, serviu mais de 2 mil pães de queijo no Salão do Brasil. O pãozinho será vendido durante um evento na Galeries Lafayette em junho. Mas a marca será lançada efetivamente na França em setembro próximo, após adaptações da embalagem à legislação européia e outros trâmites administrativos. Apesar da tradução "bouchée au fromage", o produto será vendido com a marca Forno de Minas e nome Pão de Queijo escritos com destaque em português na embalagem. Neste mês de maio haverá reuniões em Paris para se definir os canais de distribuição. A Forno de Minas deverá inicialmente vender seus produtos em restaurantes e lojas especializadas. Entre elas, a rede de produtos congelados Picard, bastante conhecida na França, com quem a empresa deverá fechar negócios em breve. O grupo francês de hotéis Accor também manifestou interesse no pão de queijo "a la mineira". Mas os supermercados também estão na mira da empresa, que espera vender inicialmente pelo menos 10 toneladas de pão de queijo por mês na França (o equivalente a 20 mil saquinhos do produto), afirma Renata de Stefano, diretora de clientela e desenvolvimento da General Mills França. "O objetivo é entrar no mercado francês para ficar. No futuro, poderemos trazer outras gamas de produtos, como coxinhas e empadinhas", diz ela. A La Pastina, terceiro maior importador do Brasil, criará um "laboratório" no restaurante brasileiro Barroco, em Paris, para atrair degustadores, barmen e eventuais compradores do café 100% arábica da região de Mogiana Paulista. A cachaça Veritas está em negociação com uma grande rede francesa de lojas de bebidas, a Nicolas, presente, praticamente, em cada esquina de Paris. Além disso, a Veritas fechou um acordo com a tradicional brasserie La Coupole, no bairro de Montparnasse, que passará a vender suas caipirinhas - bebida na moda em Paris. O objetivo do "Salon du Brésil à Paris" foi o de dar destaque às marcas e não simplesmente aos setores aos quais elas pertencem. Para dar continuidade aos contatos realizados na feira, um show-room permanente será inaugurado em junho em pleno centro da capital francesa. O espaço, de 180 metros quadrados, será a vitrine de marcas brasileiras que desejam se instalar na Europa. Também serão organizados no local seminários, cursos e eventos. Alguns dos expositores já exportam para a França e esperam ampliar seus negócios no país. É o caso da marca de lingeries Liz: apesar de ter seus produtos vendidos em cerca de 30 lojas do país (sendo dez delas em Paris), o mercado francês ainda é um dos últimos no ranking de exportações da companhia. "É difícil exportar lingerie para o berço mundial desse tipo de confecção", diz Léonardo Ghelman, diretor da Liz. "Os franceses consideram a sua lingerie a melhor do mundo. E com razão". Segundo ele, a demanda francesa é mais voltada para modelos "exóticos". Mas a marca, que tenta concorrer internacionalmente, prefere produzir modelos adaptados aos padrões globais. Os contatos feitos na feira podem resultar em novos clientes, entre eles uma rede de sete lojas em Paris. "Se este negócio for concretizado, nossa atuação na França ganhará corpo. Só conseguimos vender se tivermos um bom parceiro", diz Ghelman. O Ano do Brasil na França também está contribuindo para aumentar o interesse pela moda brasileira. Um exemplo é a exposição Créatif Brésil, na loja de departamentos Printemps, que reúne grifes como Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Lino Villaventura, Serpui Marie, Francisca Hubener, entre outras. Créatif Brésil acaba de ser prorrogado por mais um mês, e será realizado agora até 6 de junho. Segundo Paulo Pereira, um dos organizadores do Créatif Brésil, o interesse do consumidor francês e de eventuais lojistas que visitam o local superou amplamente as expectativas de divulgação das grifes brasileiras de moda e acessórios expostas em um espaço nobre na loja de departamentos. A exposição de grifes integra a operação comercial "Brésil Frénétique" do Printemps, que além das Havaianas comercializa também marcas como Natura e os móveis criados pelos célebres irmãos Campana. A Galeries Lafayette inicia nas próximas semanas outro evento comercial com produtos brasileiros.