Título: Furnas negocia compra de hidrelétricas
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Empresas &, p. B11

A estatal de energia Furnas negocia a compra da participação do Grupo Rede em duas usinas hidrelétricas: a de Lajeado, localizada em Tocantins, e Guaporé, no Mato Grosso, negócios estimados em R$ 930 milhões. Os dois ativos, juntos, são avaliados em cerca de R$ 1,85 bilhão, segundo apurou Valor. As conversas para a aquisição da usina de Guaporé, usina com 120 MW de potência instalada, estão mais adiantadas. Furnas e o Grupo Rede devem assinar dentro de 10 dias o compromisso de compra e venda do ativo, avaliado em R$ 250 milhões. O Rede é o controlador da hidrelétrica por meio do consórcio da holding Tangará (dono de 64% da usina). A Mineradora Santa Elina (MSE) é a dona dos 36% restantes. Furnas deverá comprar tanto a parte do Rede como a da MSE, e permanecer com 100% do negócio. A Eletrobrás, controladora de Furnas, e que detém 38,3% do consórcio Tangará, deverá transferir para sua subsidiária a sua participação na usina, para que Furnas permaneça como a única dona. Já a negociação para a compra de Lajeado está ainda em sua fase inicial. O valor total do ativo é de R$ 1,6 bilhão, segundo estimativas do mercado. A participação de 44,89% do Rede na usina que será transferida para Furnas é avaliada em R$ 680 milhões. No caso de Lajeado, ao contrário de Guaporé, Furnas deverá ficar com uma fatia minoritária. O objetivo é que outro sócio no empreendimento, a Energias do Brasil (ex-Eletricidade de Portugal, a EDP), que hoje detém 27,37% do projeto, acabe como o sócio majoritário, com algo em torno de 55% da hidrelétrica. Isso seria possível com a compra, pela Energias do Brasil, da participação da Companhia Energética de Brasília (CEB), de 19,84%, e do grupo CMS, de 6,93%, o que a tornaria majoritária. Isso seria feito em uma segunda etapa, depois da compra da fatia do Rede por Furnas. A CMS já manifestou interesse em vender seus ativos no país e a CEB, segundo fonte próxima às negociações, não tem situação financeira consolidada para se manter em um projeto deste porte. Assim, seria repetida em Lajeado uma parceria que já vem dando certo entre Furnas e Energias do Brasil na hidrelétrica de Peixe Angical. A usina é um projeto de R$ 1,3 bilhão e tem capacidade instalada de 452 MW. Os portugueses possuem 59% do projeto, Furnas detém 49% e 1% com o Grupo Rede. Mas Lajeado provavelmente terá um outro sócio: a Eletrobrás, holding controladora de Furnas. A Eletrobrás já colocou R$ 357 milhões na construção de Lajeado, e poderia converter esse crédito em participação acionária. Esse valor consta no balanço contábil da estatal enviado à Bovespa em 31 de dezembro de 2004. Os recursos da Eletrobrás foram injetados no projeto quando a estatal comprou títulos da Investco, empresa criada por EDP e Grupo Rede para captar recursos destinados à construção da usina de Lajeado. Com a operação de compra dos dois ativos, Furnas terá uma melhora considerável no seu fluxo de caixa. No leilão de energia velha, realizado em dezembro passado, Furnas vendeu boa parte da sua energia a preços baixos, entre R$ 57 e R$ 75 o megawatt hora. Tanto Lajeado como Guaporé possuem contratos de venda da energia produzida a preços mais atrativos, de pouco mais de R$ 100 o megawatt hora, em média. Além disso, a empresa passará a ter mais fôlego financeiro, já que deverá ser desobrigada a comercializar a energia das usinas nucleares de Angra1 e 2, que hoje são um péssimo negócio para a geradora: ela compra a R$ 92 da Eletronuclear e revende a R$ 65. O governo estuda mudar a forma de comercialização da energia gerada pelas nucleares de Angra 1 e 2, tirando Furnas da responsabilidade da sua venda. A solução cogitada pelo governo é dar à energia nuclear o mesmo tratamento dispensado à hidrelétrica de Itaipu, cuja energia é repassada compulsoriamente para as distribuidoras. Dentro desta estratégia, a comercialização passaria a ser feita diretamente pela Eletrobrás e pelo seu real custo de produção. Essa estratégia viabilizaria a construção de Angra 3, cuja energia, mais cara, não é competitiva para participar dos leilões. O governo, Furnas e Eletrobrás dizem que a idéia de mudar a comercialização da energia nuclear ainda é embrionária e nada foi decidido.